Luísa Pinto tem de decidir, de uma vez por todas, qual é o rumo que quer dar ao Teatro Constantino Nery. E era bom que não fosse o de o utilizar como objecto de vingança contra Rui Rio e a sua política cultural, e ainda menos para o usar como compensação às companhias que, segundo nos diz, foram "muito maltratadas" pelo autarca do Porto. Matosinhos tem que se afirmar por si e não contra os outros.
Numa entrevista publicada esta segunda-feira no Público, foi ainda mais longe do que já dissera ao JN: "Faço questão de privilegiar as estruturas do Porto que têm sido muito maltratadas"; "O Constantino pode e deve ser uma casa de acolhimento para as companhias que perderam lugar no Rivoli". Entre outras pérolas.
Se for assim, podemos começar a temer o pior. É verdade que a opção de entregar uma sala municipal a uma única companhia é um disparate. O dinheiro dos contribuintes não pode ser usado para patrocinar, em regime de exclusividade, o senhor La Féria ou outro senhor qualquer.
Mas a situação anterior no Rivoli também não era famosa. O dinheiro dos contribuintes não tem que ser gasto a patrocinar companhias que não conseguem ter mais do que meia dúzia de espectadores. E a julgar pelo discurso inicial da directora artística do Contantino é isso que se prepara para fazer.
Disparatado, igualmente, é o discurso saudosista do Porto 2001. Como se fosse possível prolongar um evento como aquele. Luísa Pinto lembra que havia 18 estruturas teatrais na altura. Imagino, tantos foram os milhões para distribuir. Convirá talvez lembrar que o Porto 2001 teve muito público, mas que era sempre o mesmo. Ou seja, os que faziam parte da imensa lista que recebia bilhetes de borla para tudo o que era espectáculo. Quando a benesse acabou, acabou-se o público e as companhias. Nada mais natural.
O que vale é que, com o avançar da entrevista, a directora artística do Constantino desmente tudo o que disse no arranque. E começa finalmente a explicar o que quer fazer. E percebe-se que o teatro municipal de Matosinhos será muito mais do que um albergue de companhias de "sem-abrigo". Vai ter teatro, mas também música, cinema, dança. E um café-concerto com noites temáticas de poesia e leituras encenadas.
Um conselho, portanto, a Luísa Pinto: da próxima vez que a entrevistarem, esqueça o discurso já serôdio da protecção aos "coitadinhos" do Porto. Já não é "fashion", já ninguém quer saber, já cheira mal. Teria sido preferível arrancar com outra das suas afirmações: "O Teatro não é meu, é da cidade, é dos cidadãos". E agora programar de acordo com a afirmação. Preocupe-se menos com o combate político, essa é tarefa para o presidente da Câmara, concentre-se mais na difícil tarefa de manter o Constantino sempre cheio. Só assim poderá dizer que ele é da cidade e dos cidadãos. O resto é conversa da treta.
5 comentários:
As coisas não começaram bem. Haveria muita sabedoria popular para citar acerca do muito falar e pouco fazer. Haveria também muito a dizer sobre a política cultural da CMM. O que me interessa, no entanto, salientar neste momento é o seguinte: é uma verdade que o Dr. Rio mudou a face cultural das cidades vizinhas ao mudar a da sua cidade. Toda a gente sabe isso mas é mau reconhecer porque aparecerá sempre alguém a dizer que se está a trabalhar à sombra do inexistente e outras coisas mais. O discurso das pessoas ligadas à cultura não admite que a indústria cultural seja isso mesmo, uma indústria como qualquer outra, que tem que ser inovadora, sustentável e, principalmente, criar alternativas. O que é muito diferente de educar o povo ou como é costume dizer "formar públicos". É um lugar comum dizer que o Porto de 2001 teve muitos méritos e muitos defeitos mas se houve algo que conseguiu demonstrar claramente foi que não há público para determinadas iniciativas. Isso levanta questões há muito discutidas sendo que, para mim, uma das mais importantes é qual a forma de apoiar as artes ou os artistas mais "alternativos" ou "visionários", que por essa mesma razão são incapazes de ter a casa-cheia ou obter patrocínios. Sabendo que o país é pequeno, logo as minorias não são rentáveis, e que não é tradicionalmente ligado às artes, qual o papel de quem pode ditar as regras quer por que tem o dinheiro ou porque tem os espaços? Será o papel protagonizado pela Dr. Pinto? Onde está a massa crítica da cidade? Onde estão os artistas (e não falo dos artistas que estão ligados ao poder porque esses já sabemos quem são e como fazem as coisas)? Eu respondo porque sei do que estou a falar: Não estão e assim nunca estarão. A não ser que... apareçam na TV.
Pedro Correia
Oh Rafa não percas tempo com a "lidie" ela percebe tanto daquilo como o GP percebe de gestão camarária
O que acabei de ler mostra uma concepção de gestão do Constantino Nery baseada no que se realiza no exterior do concelho que naturalmente, se tiver qualidade, deve ser aproveitado, até para criação de novos públicos e novos praticantes. Mas seria, também, útil aproveitar o novo espaço para promover os grupos e artistas locais, estejam a favor ou contra o Rui Rio, ou a favor ou contra o GP eo NM. A cultura local agradeceria.
Quanto ao Rivoli, aconselho o Rafael a rever o arquivo do Blogue pessoal (http://www.cm-porto.pt/) do Sr. Rui Rui, onde a guerra de palavras entre a CM Porto e o JN chegou a um ponto tal que até fotos de jornalistas do JN em manifestações de apoio ao "albergue de companhias de "sem-abrigo"" por lá foram publicadas.
Por onde anda a memória, ou a falta dela. Mas pelos vistos, hoje em dia tudo serve de arma de arremesso na promoção da candidatura de D.Sebastião de Barroselas.
Scarface.
Caro Scarface,
Não estou a ver o que é que uma coisa [o blogue de Rui Rio e a sua guerra com o JN] tem que ver com a outra [o meu post]. E ainda menos com a promoção da candidatura do D. Sebastião de Barroselas. Caso não tenha reparado, é um comentário à entrevista da directora do Constantino Nery. Essa fobia de que, seja qual for o assunto, se está a defender os interesses deste ou daquele candidato revela alguma estreiteza de vistas.
Enviar um comentário