terça-feira, 30 de setembro de 2008

Prognóstico antes do jogo


É já na quarta-feira que o ministro Mário Lino reúne com os autarcas da Junta Metropolitana do Porto. É tempo, por isso, para um prognóstico antes do jogo. O exercício é difícil, tendo em conta a informação, contra-informação, boatos, suspeitas e ambiguidades que se foram ouvindo ou sussurrando nas últimas semanas. Mas como tive oportunidade de perceber algumas "pistas" vindas directamente de uma fonte supostamente muito bem informada, arrisco. Sabendo que em vez de acertar no porta-aviões, posso nem acertar no submarino.
Parece acentuar-se a aposta para que a chamada Linha da Boavista deixe de ter este nome. Em alternativa, pode aparecer uma linha que, saída de Matosinhos, seguirá, mais coisa, menos coisa, pela Praça do Império, em direcção ao Campo Alegre e depois para S. Bento. Passando por muita universidade (assim de repente, Arquitectura e Letras) e por muitos bairros sociais (todo aquele aglomerado da zona da Pasteleira).
No caderno de encargos poderá aparecer também a linha entre a Senhora da Hora e o Hospital de S. João, bem como a ligação a Valbom/Gondomar, a partir de Campanhã. Já não falo da Trofa (em via única) e da extensão por mais umas centenas de metros em Gaia, por demasiado óbvias. A Linha Circular é que pode muito bem morrer ainda antes de nascer.
Coisa diferente de dizer isto é saber o calendário. Pode muito bem ser por aqui que a corda estique e parta. É que fazer a alternativa apontada em cima à Linha da Boavista custa muitos milhões de euros a mais. Não consta que o Estado ande a nadar a dinheiro nem que o Governo tenha muita vontade de canalizar investimentos elevados para a Área Metropolitana do Porto. Mas veremos.

Leixões na frente


Tivemos um pouco de sorte, o jogo não foi propriamente bonito, mas a verdade é que não se pode pedir mais. E ainda que seja só por uma semana o Leixões está na frente do campeonato. Que ingrediente fantástico para o jogo da próxima jornada, com o Benfica, no nosso Estádio do Mar. Duas confirmações no plantel deste ano: um rapaz chamado Wesley, que revela ser bom de bola, tendo em conta a regularidade das exibições, e o regresso do grande Beto da época passada. Uma nota final: convém não embandeirar em arco e notar, mais do que a conquista do primeiro lugar (partilhado), que inevitavelmente acabaremos por perder, que já somamos mais oito pontos que o penúltimo classificado e primeiro a descer, o Paços de Ferreira.

Piscina em remodelação


"Começaram as obras de remodelação da piscina de Matosinhos, um investimento municipal a rondar um milhão e 600 mil euros (...) O edifício da Piscina de Matosinhos foi projectado em 1975 pelo arquitecto Pedro Ramalho e a obra concluída em 1979 (...) O edifício da Piscina apresenta-se hoje, muito degradado (...) O projecto de requalificação e ampliação, realizado pelo arquitecto Pedro Ramalho, organiza-se a partir do edifício existente, que se mantêm integralmente. A este corpo principal são somados outros dois corpos a nascente e a poente."


Foi aqui que aprendi a nadar. Foi há uns 30 anos, quando andava no então Ciclo Preparatório, quase ali ao lado. Tenho portanto um especial carinho por tudo o que se passa neste equipamento. E presumo que não andarei longe da verdade se disser que, para o tempo, foi um investimento raro. Porque havia muito poucos espaços públicos do género. E embora por vezes a conta-gotas, também é verdade que em Matosinhos se foi investindo, ao longo dos últimos anos, na promoção da natação. Temos hoje um conjunto de piscinas capazes de receber uma parte importante da população, sejam miúdos ou graúdos. Foi também numa piscina pública que os meus rebentos aprenderam a nadar, no caso na Senhora da Hora, outro edifício que só merece elogio. E já conheço a de Leça do Balio, um pouco mais acanhada, e um pouco fora de mão para o meu leixonenese e pequeno "campeão" de natação. Também por isso, espero que se cumpra a promessa de a reabrir a 1 de Setembro do próximo ano.

domingo, 28 de setembro de 2008

Regionalização está na moda?

“Os próximos dez anos serão inquietantes para o Norte”. O alerta chegou de João Cravinho e foi feito há uns dias, durante um debate promovido por Rui Rio sobre a Regionalização. Dias antes, Renato Sampaio colocara a aposta da Regionalização no centro do debate interno socialista. Marco António Costa, líder da Distrital do PSD/Porto, explicou aos autarcas do seu partido que a Regionalização é “inevitável”. E o PCP/Porto apelou à continuação da “luta pela Regionalização”. A Regionalização está outra vez na moda, pelo menos no discurso político. Mas será desta?
Ainda no colóquio portuense, Vital Moreira lembrou a primeira e principal dificuldade. A mudança de paradigma não será possível sem uma mudança de discurso no PSD. “Sem que o PSD se converta à ideia ou sem que pelo menos abandone a hostilidade quanto à Regionalização, esta é impossível”. O constitucionalista sabe que o PSD é liderado, não por Rui Rio, mas por Manuela Ferreira Leite. E quanto à posição desta, não há margem para dúvidas: a Regionalização é uma “aventura” para a qual não conduzirá o seu partido, até porque é “absolutamente contra”. Resta saber que capacidade e vontade terá Rui Rio para inverter essa posição.
Não é certo, também, que todo o PS esteja convencido da importância da Regionalização. Embora o candidato e provável vencedor das eleições distritais do Porto, Renato Sampaio, já tenha feito a sua aposta. Lembrando que “regiões fortes e capazes de criar massa crítica são a melhor forma de consolidar o sistema democrático”. Parece apostar no mapa das cinco regiões, seguindo a divisão que já hoje existe das comissões de coordenação de desenvolvimento regional. Trata-se, como dizia Vital Moreira, de deixar de lado mapas “abstrusos” e “fazer o trabalho de casa”.
Falta e faltará ao PS capacidade de auto-crítica para explicar as consequências da centralização, para que melhor se percebe para que serve a Regionalização. Porque o PS está no Governo e pretende revalidar o mandato. Mas poderá sempre olhar-se para o “trabalho de casa” que o PCP/Porto também vai fazendo. Como a conferência de Imprensa, realizada por estes dias, com escassa atenção mediática mas com dados importantes para o debate: a taxa de desemprego do distrito do Porto é de 11%, a média nacional é de 8%; em 15 dos 18 concelhos do distrito do Porto o poder de compra per capita é inferior à média nacional; há 110 mil pessoas que beneficiam do rendimento mínimo nacional no distrito, ou seja, 33% do total do país; o PIDDAC para o distrito do Porto sofreu, entre 2005 e 2008, uma redução de 77%.
Voltemos ao princípio e a João Cravinho: “o actual modelo de divisão do país é uma das causas da decadência do Norte. E os próximos dez anos serão inquietantes”. A não ser que, por uma vez, o discurso político seja consequente.
(*) Crónica originalmente escrita para o JN desta segunda-feira

Inauguraram o quê?

Fui à nova marginal nesta manhã de domingo. E fiquei desiludido. Não com o projecto, porque ainda não está concluído. E esse é um dos problemas. O momento de inauguração não serve apenas para descerrar uma placa [no caso é um cubo de mármore (?) branco], deveria servir para marcar o momento em que um equipamento está de facto em condições para ser usufruido pela população.
Não é o caso do novo troço da marginal de Leça. Estava com um aspecto imundo, cheio de pó e terra [que em breve passará a ser lama], com muitas obras por acabar e outras simplesmente feitas com os pés. O espaço que deveria servir para a circulação de peões e bicicletas já foi tomado pelos carros, o piso já tem buracos, os bares continuam a funcionar em barracos [e o Bar Azul, ao que parece, continuará a ser a miséria que sempre foi], a zona da capela e do miradouro sobre os rochedos da Boa Nova, ficou como estava, uma desgraça em degradação acelerada. Uma desilusão.

sábado, 27 de setembro de 2008

Ponham-se a mexer

É amanhã que se inaugura a nova marginal de Leça da Palmeira. Ou melhor, a segunda fase do projecto desenhado por Siza, agora entre o Farol da Boa Nova e o Cabo do Mundo. É uma boa notícia. Apesar de se ter atrasado alguns meses, como é prática habitual da casa.
Esperemos é que não se transforme numa sequela do "este-projecto-é-meu-nem-penses-é-meu-isso-é-que-era-bom-querem-lá-ver" a que assistimos com a inauguração de Guifões. A marginal é de todos, por isso ponham-se "a mexer" [trocadilho forçado com o título da iniciativa organizada para a festarola].
Surgirão inevitavelmente as críticas à aridez [eu prefiro simplicidade] do mestre arquitecto. Mas desta vez não o poderão acusar de não ter pensado na iluminação. Pelo menos no novo parque de estacionamento, vi eu, tem quase tantos candeeiros como lugares para carros. O que é um pouco chato para a malta que utilizava o local, a coberto da escuridão, para trocar umas carícias. Paciência, continuam a ter os parques junto à Quinta da Conceição, pelo menos enquanto a não privatizam.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mais uma casinhas


É sempre interessante anunciar que se vai construir mais habitação social. E é sempre bom saber que esse tipo de decisão, tendo em conta o seu custo elevado para os contribuintes, é alicerçada num levantamento exaustivo dos problemas. Mas terá sido exactamente assim?
Vem isto a propósito do anúncio, esta semana, pela Câmara de Matosinhos, da abertura de concurso público para mais quatro pequenos empreendimentos, com um total de 70 habitações e um custo de 3,3 milhões de euros.
As notícias explicam que o processo está a ser conduzido pela Matosinhos Habit [a empresa municipal de habitação] e que a decisão de avançar com a construção de habitação social se fundamentou num recenseamento que permitiu actualizar quantas famílias precisam de ser realojadas, por viverem em situações precárias.
Por aqui se fica a Câmara de Matosinhos. Porque não disponibilizou os resultados desse estudo aos jornalistas e muito menos facultou o número de famílias que precisam de uma casa nova. Um hábito muito português e cada vez mais matosinhense este de achar que a sua palavra basta. Não basta.
Não basta, nomeadamente, quando se sabe que uma autarquia como a de Matosinhos já é proprietária de 3700 fogos distribuídos por dezenas de bairros sociais. E a política de construir casas atrás de casas já não faz sentido.
O que faz sentido é começar a perceber quem, entre os que receberam uma habitação social, já não precisa dela ou já não a merece. E agir em conformidade, abrindo vagas para a nova vaga de deserdados. É função do Estado [no caso, atribuída às autarquias] garantir uma habitação decente aos cidadãos, mas não faz sentido que seja uma garantia eterna e sem condições.
Ainda que mal comparado, o subsídio de desemprego, por exemplo, também tem limites. O mesmo acontece com outros benefícios sociais. O usufruto de uma habitação social também o deveria ter.
Admito que ainda estamos longe de chegar a este patamar de verdadeira justiça social. Mas enquanto isso não acontece é obrigação da autarquia - a de Matosinhos como outras - fornecer aos cidadãos todos os dados que sustentam as suas decisões, sobretudo quando representam um gasto considerável do dinheiro dos seus impostos.
É que, ao contrário do que os nossos autarcas julgam, não são eles os grandes responsáveis por fazer esta ou aquela obra pública - em Guifões ou noutro lado qualquer. O responsável é o cidadão pagador de impostos. Os autarcas limitam-se a gerir bem ou mal o dinheiro que lhes confiam. E como bem sabemos, demasiadas vezes gerem-no mal.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Metro a descarrilar

O ambiente está a piorar e parece-me que não vai parar por aqui. Rui Rio desfere ataque violento sobre a nova administração da Metro do Porto - o seu funcionamento é "miserável" - e com isso sobre o Governo e as suas intenções para a expansão da rede.
Como se começava a perceber - e Rui Rio dás mais indicações nesse sentido - a Linha da Boavista vai ficar congelada. Resta saber o que dará o Governo em troca aos utentes de transportes públicos. A julgar pela secretária de Estado, Ana Paula Vitorino, pouco ou nada. A julgar pelo ministro, Mário Lino, tudo o que estava previsto. Contradições que os nossos governantes encaram com a maior das bonomias.
Como no concreto não sabemos nada - como sempre, encomendaram-se mais uns estudos, em que o principal objectivo parece ser desqualificar os estudos anteriores -, só podemos especular a partir das pistas que nos foram sendo fornecidas nos últimos dias.
Assim, parece-me que no curto prazo (um ano) teremos quando muito o concurso (que não a construção) da ligação à Trofa, a partir da Maia. E talvez a continuação da Linha Amarela por mais umas dezenas de metros até Santo Ovídio (Gaia). E por aqui provavelmente ficaremos.
O resto, se e quando houver, será, para citar Ana Paula Vitorino, no âmbito de um projecto gobal, linguagem normalmente utilizada para designar obras que nunca se sabe quando vão sair do papel. Mesmo assim, não deixará de haver anúncios solenes e compromissos reafirmados. Até porque estamos a um ano de eleições autárquicas.
E como estamos a um ano de eleições autárquicas e como sabemos que haverá apostas fortes para várias câmaras da Área Metropolitana, podemos aprofundar um pouco mais os prognósticos. Logo veremos se batem mais ou menos certos.
Por exemplo, não custa imaginar que, pelo menos no discurso político (que é diferente da velocidade de execução), seja dada prioridade a linha Senhora da Hora/S. Mamede de Infesta/Hospital de S. João. Com a batalha titânica que se adivinha pelo Poder em Matosinhos, este poderá ser um trunfo para Guilherme Pinto apresentar aos eleitores.
Ao contrário, e se esta linha for considerada prioritária, percebe-se que a Linha da Boavista comece a ser descartada. Fazer as duas nunca passou de uma hipótese académica. E ao abandoná-la, pelo menos no capítulo das prioridades, a vantagem que se cria para Guilherme Pinto é simétrica ao problema político com que fica Rui Rio.
Resta saber se dará frutos. As promessas deste calibre podem já não ser assimiladas pela maior parte da população. Seria preciso obra e não promessas em Matosinhos. E já não há tempo para mostrar nada de concreto até à altura em que se vai colocar a cruz no papel.
No Porto, pode até acontecer que o feitiço se volte contra o feiticeiro. Rui Rio já mostrou a sua mestria neste jogo em ocasiões anteriores e não terá qualquer problema em apresentar a questão como uma estratégia eleitoral retorcida, por um lado, e como uma prova do centralismo exacerbado, por outro. E com isso, em vez de perder uns votos para Elisa Ferreira, ganhar por mais ainda.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Javardice

Podemos alinhar as melhores argumentações, expor as ideias mais trabalhadas, escrever os melhores textos. Há sempre uma altura em que percebemos que é nas frases mais simples que se encontram os retratos mais fiéis. Foi o que percebi ontem, quando perguntei, genericamente, uma opinião sobre a escola [a E.B. 2,3 de Leça da Palmeira].
A resposta pronta de um repórter de nove anos: "Uma javardice. Está suja, está toda velha e até tem buracos nas paredes". Resumindo: os professores podem ser os melhores, os programas pedagógicos os mais correctos. Se os equipamentos são uma "javardice", como querem que a Escola Pública seja uma referência?

Que linha de metro?


Ainda que o optimismo não seja grande relativamente à vontade do Governo em investir na expansão da rede de metro do Porto, podemos mesmo assim questionar qual será a melhor solução para uma nova ligação entre Matosinhos e o Porto. É a essa questão que poderão responder na sondagem recentemente instalada na "Circunvalação".
Recordo que qualquer das quatro propostas está, pelo menos teoricamente, em cima da mesa. A mais forte, por ser mais barata, mais rápida de fazer, e por estar no topo das preferências de Rui Rio [ignora-se a opinião, neste momento e nesta matéria, de Guilherme Pinto] é a "clássica" ligação entre o Senhor de Matosinhos, Matosinhos-Sul, Castelo do Queijo, Avenida da Boavista, até à Rotunda. A Empresa Metro do Porto já pagou, aliás, parte das obras que seriam necessárias para implementar esta situação.
Outra das soluções avançadas há cerca de um ano, quando foram estudadas alternativas para o saturado canal entre a Senhora da Hora e a Trindade, foi a de avançar com uma linha que, partindo da estação da Senhora da Hora, cruzaria esta freguesia e depois S. Mamede de Infesta, para se juntar à Linha Amarela (S. João / Trindade / Gaia) junto ao Hospital. Foi apontada como alternativa à construção da Linha da Boavista, mas também se apostou na possibilidade de avançar com as duas em simultâneo. É o que consta, pelo menos, do Memorando de Entendimento assinado, no ano passado, pela Junta Metropolitana e pelo Governo.
Já numa fase posterior, e quando a Metro encomendou estudos sobre a expansão aos especialistas da Faculdade de Engenharia do Porto, apareceu uma outra alternativa ao traçado da Linha da Boavista. A actual Linha Azul mantinha-se até à estação de Pedro Hispano, derivando a partir daí em direcção à Rua do Lidador, Fonte da Moura, para então sim subir a Avenida da Boavista. É a terceira hipótese apontada na sondagem.
Finalmente, um percurso e uma possibilidade que de vez em quando é desenterrada da memória. A linha férrea que serve o porto de Leixões [e que a CP/Refer já prometeram reactivar dezenas de vezes para o transporte de passageiros, para outras tantas a deixarem cair] é às vezes apontada como possível canal para uma linha de metro, com extremidade em Campanhã.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Rodeo no Parque


Passava da uma da manhã da madrugada de hoje. Circunvalação acima ecoavam os gritos de uma banda qualquer que animava o Rodeo no Porto. Prometeram-nos um Parque da Cidade ainda maior e afinal o que temos? Um descampado onde uns milhares de estudante se embebedam durante uma semana; um depósito de material de construção; provisoriamente uma boxe para carros de corrida ou uma pista de aviação. Foi isto que nos prometeram? Não, não foi.
Passo a recordar. Corria a campanha eleitoral autárquica de 2001 e multiplicavam-se as notícias sobre os planos de construção para a frente do Parque da Cidade na Circunvalação. Os candidatos, tranquilamente, cavalgaram a onda de fundamentalismo verde, porque o que era preciso era ganhar votos. Construções? Nem pensar. O que se ia fazer era, isso sim, um parque mesmo até à estrada, provavelmente com o relvado a entrar pelo asfalto.
Um dos candidatos que alinhou nessa demagogia precipitada foi o que acabou por vencer as eleições, Rui Rio. Nos meses que se seguiram, Nuno Cardoso foi cozido em lume brando. A questão foi apresentada como uma mera negociata com empreiteiros.
Mas, na verdade, só um ingénuo desinformado e desmemoriado cai nessa. Convém não esquecer que o antigo presidente da Câmara teve de decidir depressa. Havia dinheiro do Porto 2001 que era preciso aproveitar para fazer crescer o Parque da Cidade. Os terrenos necessários eram privados e custavam muito dinheiro, e o engenheiro fez a permuta: terrenos no miolo por troca de capacidade de construção nas margens da Boavista (menos) e da Circunvalação (mais).
Nuno Cardoso pode ser acusado de ser precipitado e de, com isso, não ter acautelado todos os interesses do Município. Verdade. Mas também tem de ser apontado como o responsável por termos um espaço verde magnífico, como há poucos por esse Mundo fora, com aquela fabulosa ligação ao mar e à marginal.
Passemos então ao legado de quem se seguiu. Congelados os negócios de permutas e canceladas a permissões para construir, vieram os processos em Tribunal. As primeiras decisões já começaram a sair e, como se esperava, apontam para um preço final de muitas dezenas de milhões de euros. Coisa que obviamente a Câmara do Porto não tem. E mesmo que tivesse, não faria sentido gastar. Seria, como também já disse Rui Rio, o parque verde mais caro do Mundo.
Como é evidente, se a Câmara não tem dinheiro para luxos desses, vai ter de negociar. Aliás, já está a negociar. Nós é que não temos notícias dessas negociações. E se não for nas margens do parque, será noutros locais da cidade que vai ter de ceder capacidade construtiva.
Enquanto a situação de arrasta, voltamos ao princípio do post. Não sei se alguém já se deu ao trabalho de olhar bem para a bandalheira em que se transformaram aqueles terrenos na frente da Circunvalação. Tanto amor pelo Parque, para afinal o transformar numa entulheira. O espaço serve regularmente de depósito de materiais para a autarquia. E de forma sazonal lá temos um circo decadente qualquer, a semana da bebedeira, as corridas de carros, as habilidades dos aviões e coisas imbecis como um Rodeo.
Note-se, não tenho nada contra qualquer das iniciativas [excepto a imbecilidade do Rodeo e a entulheira]. Têm direito à existência. Mas não ali, ao lado de um Parque que é preciso preservar e junto a uma zona residencial. Não faltam espaços alternativos um pouco por toda a Área Metropolitana para instalar tudo aquilo. Bastaria que os nossos autarcas não fossem todos tão provincianos e trabalhassem em conjunto para bem dos cidadãos da metrópole.

domingo, 21 de setembro de 2008

Magalhães em Matosinhos


Matosinhos parte na frente na corrida ao Magalhães, o portátil que junta a Intel e a matosinhense JP Sá Couto. Na próxima terça-feira começam a chegar os primeiros quatro mil exemplares, a 16 concelhos do país. Destinam-se, como se sabe, aos alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico.
Matosinhos parte na frente e é justo que assim seja. Porque a empresa que os produz está aqui sediada. Porque se há trabalho em que a nossa autarquia merece nota positiva é precisamente no sector da Educação.
Apesar dos problemas pontuais que todos sentimos - as obras que se arrastam por demasiado tempo, as escolas transformadas em aglomerados de contentores -, também é preciso reconhecer o mérito. Alguns exemplos:
A Câmara de Matosinhos há vários anos que faz um esforço de investimento bastante grande na recuperação de escolas. E esse movimento parece ser para continuar.
Quando a actual ministra da Educação decidiu, e muito bem, avançar com a Escola a Tempo Inteiro, Matosinhos esteve na vanguarda, criando condições para que o 1º Ciclo deixasse de ser o parente pobre da Educação, enfrentando as resistências de alguns professores agarrados a privilégios anacrónicos.
E finalmente, agora que o Estado finalmente descentraliza competências no 2º e 3º Ciclo, Matosinhos volta a responder presente, sem receios, com frutos que seguramente serão visíveis em pouco tempo.
Tudo isto tem custos? Tem, mas não vejo melhor forma de utilizar o dinheiro dos contribuintes do que na Educação. A implementação destas medidas tem muitas vezes velocidades diferentes, gerando alguma desigualdade interna? É verdade, mas esperar que seja possível fazer tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo, costuma ser sinónimo de deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.
Como o nosso presidente da Câmara disse por estes dias, na escola dificilmente há uma segunda oportunidade. Tudo o que está por fazer é portanto urgente.
Não confundam é reconhecimento com subserviência. Porque é preciso fazer depressa, mas com exigência. E os pais das crianças que frequentam o nosso ensino público têm o direito e o dever de exigir tudo.

Batalhas socialistas (*)

O PS do Porto é fraco, frágil e submisso. O seu líder, Renato Sampaio, pratica uma gestão de fim-de-semana e não conhece os dossiês que dizem respeito ao Porto. Fala sobre piercings e contadores de água. Não fala sobre a gestão do aeroporto, sobre a expansão do metro, ou sobre a aplicação de fundos comunitários.
O retrato, demolidor, é de Pedro Baptista. Que também é socialista e que também é candidato à liderança do PS do Porto. Uma espécie de franco-atirador do sector mais à esquerda do PS, praticamente condenado à derrota face ao poder do aparelho que Renato Sampaio personifica.
Basta observar quem os acompanhou nas sessões de campanha dos últimos dias. Baptista reuniu um conjunto de figuras distantes dos directivos, como Octávio Cunha, Eurico Figueiredo, Nuno Cardoso ou Narciso Miranda. Têm pouca ou nenhuma influência nos sindicatos de voto essenciais para vencer eleições internas. Sampaio sentou à mesa todos os líderes das 18 concelhias do distrito do Porto.
O resultado final das eleições partidárias de Outubro adivinha-se. E com ele algumas das opções para a corrida às autárquicas, que terá lugar um ano depois. Desde logo, para a Câmara do Porto, em que a candidata consensual é Elisa Ferreira, assim a antiga ministra e actual eurodeputada o queira.
Com a diferença de que, ganhando Sampaio, terá de concorrer sozinha contra a coligação PSD/CDS que suporta Rui Rio. Ficará pelo caminho a proposta de Baptista para que seja possível uma coligação com o Bloco de Esquerda, com o PCP, ou com ambos.
“O PS deve perder os seus complexos de direita”, defende o candidato da ala “marxista-leninista”. Pelo menos de acordo com a catalogação de José Lello: o antigo líder do jornal “O Grito do Povo”, disparou o deputado e apoiante de Renato Sampaio, “produz mais decibéis do que apoios”.
A vitória de Sampaio sobre Baptista levará também à colocação de um ponto final nas já escassas ambições de Narciso Miranda se recandidatar pelo PS à Câmara de Matosinhos. Será Guilherme Pinto o escolhido, o que se traduzirá numa luta fratricida pela autarquia. Porque Narciso já está em campanha, preparando uma candidatura independente. Uma oportunidade que o PSD tentará aproveitar para conquistar um dos mais importantes bastiões socialistas no Poder Local.
As eleições distritais e a vitória previsível de Sampaio poderão também constituir um travão à ambição de Maria José Azevedo em Valongo. O seu rival Afonso Lobão – que já manifestou vontade pública de ser cabeça de lista pelo PS – é líder da concelhia e aliado do líder distrital. A socialista que esteve tão perto de derrubar o PSD, e que desde então vem batalhando por manter a oposição socialista na ribalta, corre sérios riscos de ser descartada.
(*) Crónica publicada originalmente
no JN desta segunda-feira

Circunvalação

A escolha de um nome nunca resulta do acaso. E no que a este blogue diz respeito, representa pelo menos o esboço de uma linha editorial. Porque a Circunvalação é de Matosinhos, mas não é só de Matosinhos.E se neste espaço se pretende ter sempre Matosinhos no horizonte, não posso esquecer que a nossa cidade e o nosso concelho fazem parte dessa imensa metrópole cujo núcleo central é definido, precisamente, pela Circunvalação.
Uma estrada que começou por ser uma fronteira. E se, fisicamente, ela já não existe, a verdade é que ainda não foi vencida. Sobretudo ao nível da nossa pequena política paroquial. Ao contrário, há muito que quem vive na metrópole vive a metrópole, mesmo que nem o perceba.
Poucos ou nenhuns assuntos dizem apenas respeito a Matosinhos. Não vivemos numa ilha e de nada nos servem bairrismos anacrónicos. A identidade e o sentido de pertença são fundamentais para cimentar a vida comunitária, mas a cegueira ao que nos rodeia apenas nos torna mais pequeninos.
A escolha do nome tem ainda a ver com as origens. Como já expliquei no texto de despedida de “O Porto de Leixões”, é apenas uma natural mudança de rota. E da Circunvalação, como se sabe, avista-se o porto. Eu pelo menos vejo-o amiúde através das minhas janelas, a real e a virtual.
Serão no entanto projectos autónomos e distintos, como se percebe. E portanto também com regras de participação diferentes. Não renego contributos anónimos, desde que revelem inteligência, mas também não os incentivo. E não serão tolerados comentários, anónimos ou identificados, com insinuações sobre a vida privada de terceiros. Este não será um espaço de ajuste de contas. Poderá ser um espaço de denúncia, quando fundamentada. E será um espaço de debate se os comentadores quiserem.
Como poderão reparar, os que se derem ao trabalho de passar por aqui, este blogue tem já vários “posts” colocados. São alguns dos textos publicados originalmente em “O Porto de Leixões”. Não por vaidade, mas porque a coerência deve ser mantida. O que escrevi antes sobre assuntos que voltarei a abordar no “Circunvalação” deve estar disponível para consulta.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

As escolas

"Não há uma segunda oportunidade para as crianças terem uma boa escola". Como se lê, o actual presidente da Câmara de Matosinhos [Guilherme Pinto, para os mais distraídos] também diz coisas acertadas. E, já agora, toma decisões correctas. Como a que esteve associada à frase citada, quando anunciou a intenção de, já este ano, a autarquia assumir a gestão das E.B. 2,3 do concelho. O que se espera agora é que a celeridade na acção seja semelhante à da decisão.
Porque de facto não há uma segunda oportunidade para ter uma boa escola. Querem um exemplo? Dou-vos o meu. Um dos meus rapazes, o mais velho, esteve no último ano remetido a um contentor instalado no Parque Florbela Espanca. E por causa dos crónicos atrasos na recuperação da Escola do Corpo Santo, que esteve anos ao abandono e mais alguns em obras, não teve segunda oportunidade para ter uma boa escola primária.
Transitou este ano para a E.B. 2,3 de Leça da Palmeira. Já tinha ouvido dizer que chamar escola aquela coisa era capaz de ser exagerado. Mas não há nada como uma visita guiada por um conjunto de edifícios semi-destruídos, com mobiliário apodrecido, recreios degradados e sujidade entranhada por todo o lado para se ter a verdadeira dimensão da catástrofe.
Se já não estivesse, ficava convencido da urgência de passar a gestão do segundo ciclo para as autarquias. É verdade que, como já disse, quando fazem obras arranjam sempre forma de as deixar atrasar. Mas ao menos preocupam-se. Coisa que jamais passaria pela cabeça dos professores burocratas que controlam o Ministério da Educação e respectivas direcções regionais.
Foi já depois desse passeio pela zona de guerra de Leça da Palmeira que se ficou publicamente a saber que a Câmara de Matosinhos assumia de imediato (este ano lectivo) a gestão das E.B. 2,3. E o nosso presidente até já anunciou que estão em curso os projectos para reabilitar a de Leça da Palmeira e a de Matosinhos (que está tão mal ou pior do que a primeira).
Resumindo, suspeito que para o meu rapaz, como para os seus coleguinhas, já não haverá tempo para uma segunda oportunidade. O segundo ciclo dura dois anos e, aposto com quem quiser, que em dois anos a Câmara não vai conseguir renovar coisa nenhuma. Concluindo como comecei, "não há uma segunda oportunidade para as crianças terem uma boa escola". Dizer coisas acertadas não chega, é preciso agir em conformidade.
PS - A minha única consolação é que o rapaz mais novo anda dois anos mais atrás. Este ano já está na nova Escola do Corpo Santo e assim ficará outros dois. E com um pouco de sorte, quando for a sua vez de chegar à E.B. 2,3, também a esta já poderemos chamar escola.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cascas de banana

Como já andava um pouco desactualizado, aproveitei o dia de folga para recolher algumas informações sobre Matosinhos junto dos jornais locais. Não descobri nada de muito entusiasmante. Mas deu para perceber, pelo menos, que actual e antigo presidente trocaram recentemente galhardetes. E não estou a falar do cartaz de boxe que aborreceu Magalhães Pinto. A coisa já vai ao nível da psiquiatria. Infelizmente já não consegui recuperar as declarações de Guilherme Pinto ao Público, mas ainda fui a tempo de ler a resposta de Narciso Miranda. O que se segue é um resumo das excitações mais interessantes que fui encontrar nas últimas edições do Matosinhos Hoje e do Jornal de Matosinhos. Nada de muito entusiasmante. É o que se pode arranjar. E sempre ajuda na tentativa (sempre votada ao fracasso) de quebrar a hegemonia esmagadora do Eugénio neste blogue.
“Anunciam-se para Setembro diversas inaugurações em Matosinhos: gesto simiesco que seria potencialmente capaz de condicionar o sentido do voto em eleições próximas, se não houvesse quem desmontasse semelhante embuste.”
Heitor Ramos
in Matosinhos Hoje
[O esclarecido cronista rotula o que por aqui se passa como uma macacada. E não gosta, como se percebe, das habilidades dos oragotangos que actualmente controlam a selva. Alguém consegue adivinhar quem é que ele gostaria de ver a distribuir as bananas? Aposto que é um velho gorila barbudo.]
“A Juventude Social-Democrata de Matosinhos afixou por aí um cartaz (…) De um golpe, meteram no mesmo saco quem não é comparável. De algum modo, são muito parecidos com um dos contendores que pretenderam retratar no referido cartaz. E, provavelmente, com poucos ou nenhuns resultados políticos.”
Magalhães Pinto
in Matosinhos Hoje
[A ex-eminência parda do PSD desanca nos jotas. Não gostou do cartaz que retrata o combate de boxe entre Narciso e Guilherme. Não percebo porquê. A mim parece-me uma obra prima digna de um concelho que até tem uma escola de design. Magalhães não escreve, mas aposto que, a exemplo do cronista que o antecede, classifica isto como uma macacada. Sendo que a sua preferência é óbvia pelo chefe dos oragotangos. Ou melhor, o ódio ao gorila barbudo é muito.]
"Essas atitudes vêm de quem não tem razão. Provém de alguém que é absolutamente intolerante e que tem uma concepção da vida cívica, da cidadania e da democracia, perigosamente perversa".
Narciso Miranda
In Jornal de Matosinhos
[Segundo percebi, Guilherme tinha aconselhado a Narciso uma ida ao psiquiatra. Não vislumbro razão para uma resposta tão intempestiva. Se aconselha o psiquiatra é porque ainda acredita na sua recuperação. Podemos até dizer que é um gesto de amizade. Ainda os vamos ver a partilhar uma banana na ala dos símios do jardim zoológico da casa amarela.]
“Nenhum autarca deveria incorporar direcções de clubes, nem de SAD's, quando há compadres ou familiares entrosados nas autarquias e no desporto, em simultâneo. Que pensam os cidadãos?Só quem não vê um palmo à frente do nariz, é que não vê, nem ouve, nem aquilata, o que se comenta, por aí... Cristo, vem cá de novo, como fizeste no Templo ao expulsar, a chicote, os vendilhões, e acaba com desconfianças, diz-se diz-se, misturas, desconfianças!”
Vasco de Atayde
in Jornal de Matosinhos
[Deixei para o fim a minha favorita. É uma espécie de homenagem de alguém que, ao ler prosa tão lúcida, se sente um verdadeiro símio. Embora me permita pequenas sugestões. Por exemplo, ficaria muito melhor substituir “entrosados” por “enroscados”. Quanto à ameaça bíblica que culmina a sentença, é simplesmente uma maravilha.]

Corrida ao gasóleo

Se fosse administrador da Repsol desistia já de construir uma nova refinaria em Badajoz. Não por causa das preocupações ambientais de José Roquete [está numa de fazer campos de golfe à volta do Alqueva e uma refinaria não fica bem no bilhete postal], mas porque a Petrogal vai mais adiantada no objectivo de ultrapassar o problema da subprodução europeia de gasóleo.
Para incómodo dos bilhetes postais de Matosinhos e com grande prejuízo do Eugénio, que mora ao lado, a refinaria de Leça da Palmeira, não só não vai fechar, como ainda por cima vai crescer. A notícia está no JN [
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Matosinhos&Option=Interior&content_id=1008473] e diz-nos que já está em dicussão pública um projecto PIN [curiosamente, a mesma a sigla que costuma ser invocada quando se quer justificar campos campos de golfe no Alentejo], que prevê a construção de novas unidades, tanques e uma chaminé [esta é a parte mais atractiva, pelo menos para mim que gosto de as observar da janela de casa, brilhando na noite].
Claro que os responsáveis da Petrogal vendem este pacote como fazendo parte de um projecto de reconversão ambiental da refinaria. Mas não convém perder o Norte. O que lhes interessa de facto é aumentar a capacidade de produção e armazenamento de gasóleo [o que até nem é mau, porque a minha máquina move-se a este combustível e tudo o que contribua para lhe baixar o preço é satisfatório, ainda que seja à custa dos pulmões do outro administrador do blogue].
Para os mais cínicos não se ficarem a rir, há um outro processo de discussão pública a correr. Esse a propósito de uma unidade de cogeração [inventam cada nome quando querem complicar], que pelos vistos permitirá "reduzir significativamente as emissões de gases para a atmosfera", mas que na verdade ainda não tem data para se fazer. Suspeito aliás que é capaz de ser um investimento a longo prazo. Pela parte que me toca, até concordo. Há lá coisa mais bonita que a fumarada que sai daquelas chaminés, como prova a foto em cima?
Costuma dizer-se de coisas destas que uma mão [mais gasóleo] lava a outra [menos gases]. A mim parece-me uma equação impossível. Mas que sei eu, que só tive matemática até ao 9º ano?