domingo, 21 de setembro de 2008

Batalhas socialistas (*)

O PS do Porto é fraco, frágil e submisso. O seu líder, Renato Sampaio, pratica uma gestão de fim-de-semana e não conhece os dossiês que dizem respeito ao Porto. Fala sobre piercings e contadores de água. Não fala sobre a gestão do aeroporto, sobre a expansão do metro, ou sobre a aplicação de fundos comunitários.
O retrato, demolidor, é de Pedro Baptista. Que também é socialista e que também é candidato à liderança do PS do Porto. Uma espécie de franco-atirador do sector mais à esquerda do PS, praticamente condenado à derrota face ao poder do aparelho que Renato Sampaio personifica.
Basta observar quem os acompanhou nas sessões de campanha dos últimos dias. Baptista reuniu um conjunto de figuras distantes dos directivos, como Octávio Cunha, Eurico Figueiredo, Nuno Cardoso ou Narciso Miranda. Têm pouca ou nenhuma influência nos sindicatos de voto essenciais para vencer eleições internas. Sampaio sentou à mesa todos os líderes das 18 concelhias do distrito do Porto.
O resultado final das eleições partidárias de Outubro adivinha-se. E com ele algumas das opções para a corrida às autárquicas, que terá lugar um ano depois. Desde logo, para a Câmara do Porto, em que a candidata consensual é Elisa Ferreira, assim a antiga ministra e actual eurodeputada o queira.
Com a diferença de que, ganhando Sampaio, terá de concorrer sozinha contra a coligação PSD/CDS que suporta Rui Rio. Ficará pelo caminho a proposta de Baptista para que seja possível uma coligação com o Bloco de Esquerda, com o PCP, ou com ambos.
“O PS deve perder os seus complexos de direita”, defende o candidato da ala “marxista-leninista”. Pelo menos de acordo com a catalogação de José Lello: o antigo líder do jornal “O Grito do Povo”, disparou o deputado e apoiante de Renato Sampaio, “produz mais decibéis do que apoios”.
A vitória de Sampaio sobre Baptista levará também à colocação de um ponto final nas já escassas ambições de Narciso Miranda se recandidatar pelo PS à Câmara de Matosinhos. Será Guilherme Pinto o escolhido, o que se traduzirá numa luta fratricida pela autarquia. Porque Narciso já está em campanha, preparando uma candidatura independente. Uma oportunidade que o PSD tentará aproveitar para conquistar um dos mais importantes bastiões socialistas no Poder Local.
As eleições distritais e a vitória previsível de Sampaio poderão também constituir um travão à ambição de Maria José Azevedo em Valongo. O seu rival Afonso Lobão – que já manifestou vontade pública de ser cabeça de lista pelo PS – é líder da concelhia e aliado do líder distrital. A socialista que esteve tão perto de derrubar o PSD, e que desde então vem batalhando por manter a oposição socialista na ribalta, corre sérios riscos de ser descartada.
(*) Crónica publicada originalmente
no JN desta segunda-feira

2 comentários:

Visconde Peixeiro disse...

A equação dos partidos é muito simples de obter

Partidos+Fracos caracteres=Carneirismos submissos


Boa sorte para o Blog

leixão disse...

É inquestionável que o Pedro Baptista seria uma solução mais à esquerda, e portanto melhor, para a liderança distrital do PS.
Como é verdade que tem um projecto político que seria interessante no campo da defesa dos interesses do região.
E a sua postura pessoal bem como a frontalidade da sua actuação são méritos indiscutíveis, e conseguiu apoios - ou pelo menos presenças na sessão de apresentação que são uma mais valia.
Tem no entanto alguns pontos fracos que podem afastar apoios,e apoios significativos:
1 - Cercou-se - ou deixou-se cercar - por personagens que nada tem a ver com o plano ideológico em que se move nem com o programa político que sustenta; apenas estão com ele para estarem contra a «clique» dominante no partido, por uma estratégia de sobrevivência e por revanchismo.
E que não lhe vão trazer nem simpatias nem votos em quantidade significativa.
É, sobretudo, pena que queira ter consigo essas duas figuras deploráveis da política e da gestão autárquica na qual demonstraram a sua maneira de agir: Narciso Miranda e Nuno Cardoso (sim este, apesar da lavagm que aí acima se pretende fazer do negócio do Parque da Cidade).
2 - Aparece sempre com uma evidente afeição pelo futebol e sobretudo pelo FCP que, no mínimo, não é de bom tom.
3 - A sua passagem pela política parlamentar não deixou boas memórias.