segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Rodeo no Parque


Passava da uma da manhã da madrugada de hoje. Circunvalação acima ecoavam os gritos de uma banda qualquer que animava o Rodeo no Porto. Prometeram-nos um Parque da Cidade ainda maior e afinal o que temos? Um descampado onde uns milhares de estudante se embebedam durante uma semana; um depósito de material de construção; provisoriamente uma boxe para carros de corrida ou uma pista de aviação. Foi isto que nos prometeram? Não, não foi.
Passo a recordar. Corria a campanha eleitoral autárquica de 2001 e multiplicavam-se as notícias sobre os planos de construção para a frente do Parque da Cidade na Circunvalação. Os candidatos, tranquilamente, cavalgaram a onda de fundamentalismo verde, porque o que era preciso era ganhar votos. Construções? Nem pensar. O que se ia fazer era, isso sim, um parque mesmo até à estrada, provavelmente com o relvado a entrar pelo asfalto.
Um dos candidatos que alinhou nessa demagogia precipitada foi o que acabou por vencer as eleições, Rui Rio. Nos meses que se seguiram, Nuno Cardoso foi cozido em lume brando. A questão foi apresentada como uma mera negociata com empreiteiros.
Mas, na verdade, só um ingénuo desinformado e desmemoriado cai nessa. Convém não esquecer que o antigo presidente da Câmara teve de decidir depressa. Havia dinheiro do Porto 2001 que era preciso aproveitar para fazer crescer o Parque da Cidade. Os terrenos necessários eram privados e custavam muito dinheiro, e o engenheiro fez a permuta: terrenos no miolo por troca de capacidade de construção nas margens da Boavista (menos) e da Circunvalação (mais).
Nuno Cardoso pode ser acusado de ser precipitado e de, com isso, não ter acautelado todos os interesses do Município. Verdade. Mas também tem de ser apontado como o responsável por termos um espaço verde magnífico, como há poucos por esse Mundo fora, com aquela fabulosa ligação ao mar e à marginal.
Passemos então ao legado de quem se seguiu. Congelados os negócios de permutas e canceladas a permissões para construir, vieram os processos em Tribunal. As primeiras decisões já começaram a sair e, como se esperava, apontam para um preço final de muitas dezenas de milhões de euros. Coisa que obviamente a Câmara do Porto não tem. E mesmo que tivesse, não faria sentido gastar. Seria, como também já disse Rui Rio, o parque verde mais caro do Mundo.
Como é evidente, se a Câmara não tem dinheiro para luxos desses, vai ter de negociar. Aliás, já está a negociar. Nós é que não temos notícias dessas negociações. E se não for nas margens do parque, será noutros locais da cidade que vai ter de ceder capacidade construtiva.
Enquanto a situação de arrasta, voltamos ao princípio do post. Não sei se alguém já se deu ao trabalho de olhar bem para a bandalheira em que se transformaram aqueles terrenos na frente da Circunvalação. Tanto amor pelo Parque, para afinal o transformar numa entulheira. O espaço serve regularmente de depósito de materiais para a autarquia. E de forma sazonal lá temos um circo decadente qualquer, a semana da bebedeira, as corridas de carros, as habilidades dos aviões e coisas imbecis como um Rodeo.
Note-se, não tenho nada contra qualquer das iniciativas [excepto a imbecilidade do Rodeo e a entulheira]. Têm direito à existência. Mas não ali, ao lado de um Parque que é preciso preservar e junto a uma zona residencial. Não faltam espaços alternativos um pouco por toda a Área Metropolitana para instalar tudo aquilo. Bastaria que os nossos autarcas não fossem todos tão provincianos e trabalhassem em conjunto para bem dos cidadãos da metrópole.

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