quinta-feira, 5 de março de 2009

Sondagens


A julgar pelo que se vai lendo e ouvindo, já se fizeram várias sondagens a propósito das próximas eleições autárquicas. Eu já vi algumas e já ouvi falar de outras. E a conclusão a que chego é que, no momento, o primeiro lugar na grelha de partida pertence, de forma indiscutível, a Narciso Miranda.

E isso deve-se, presumo, a três factores. O primeiro tem a ver com a visibilidade do homem que, durante quase três décadas, esteve à frente da Câmara. No melhor e no pior, interessa pouco. Uma visibilidade (ou notoriedade, como costumam dizer os homens que fazem sondagens) que Narciso não se cansa de trabalhar. Não tenho dúvida que não há um único matosinhense que não o reconheça se o vir a passar na rua. E caso se cruze com algum mais distraído, Narciso tratará de forçar o reconhecimento.

O segundo tem a ver com o facto de ser um candidato que há muito anda no terreno. Mesmo antes de tornar pública a sua candidatura, já Narciso urdia a sua teia. Quase se poderá dizer que a campanha para 2009 começou quando ainda se estava na campanha para 2005.

O terceiro tem a ver com a desilusão em que rapidamente se converteu o actual mandato de Guilherme Pinto. Muito por culpa do próprio, como é evidente, mas ainda mais pela fraca qualidade e ganância dos que o rodeiam. E não estão a falar apenas dos vereadores. Sobretudo das "elites" que compõem a hierarquia dos serviços municipais, dos administradores de empresas municipais, dos pequenos poderes das freguesias, dos manobradores da máquina partidária. Um lote grande de gente em que é difícil (não digo impossível) encontrar algum sentido de serviço público. Sendo que boa parte desta confederação de pequenos interesses foi criada por Narciso Miranda. Uma nebulosa que este foi sendo capaz de controlar, pelo menos em parte, graças ao seu carisma e a um pulso de ferro que muitas vezes descarrilou para o autoritarismo.

O resultado disto, para voltar ao princípio, é que Narciso está no primeiro lugar da grelha de partida. Sendo óbvio que vai "comer" bem mais de metade das suas intenções de voto aos que, em 2005, votaram no Partido Socialista. O resto vai sobretudo buscar ao PSD, e provavelmente mais umas migalhas ao PCP e ao BE. O disfarce da independência ajuda sempre a tornar uma candidatura mais abrangente [digo disfarce porque é uma evidência que Narciso é e será sempre do PS e que apenas razões conjunturais o impedem de se recandidatar pelo seu partido]. E isto significa que, cruzando as várias sondagens que por aí se fizeram e vão fazendo, andará nesta altura com um resultado a rondar os 30% a 35%.

No segundo e terceiro lugares estarão, por esta ordem, Guilherme Pinto, e um qualquer candidato do PSD. No caso do PS, não sobram mais do que 25% de intenções de voto, porque neste momento já perde mais de metade do que teve em 2005 para Narciso Miranda. O PSD andará por perto, algures na casa dos 20% a 25%.

Narciso arrisca-se a já ter atingido o pico "eleitoral". E pode começar a sofrer algum desgaste de uma partida muito antecipada. Ao PS de Guilherme Pinto não se vislumbra alma para dar a volta por cima. Embora possa ainda vir a beneficiar de uma ou outra obra que entretanto se inaugure, para já não falar da máquina de propaganda poderosa que sempre foi a Câmara Municipal. E ainda, é bom não esquecer, de uma fidelidade quase cega de parte do eleitorado ao PS.

Quem terá no entanto mais a ganhar, daqui para a frente, serão os outros. O PCP, com Honório Novo já a dar sinais de um renovado dinamismo. O Bloco de Esquerda, mais à boleia do fenómeno nacional do que da capacidade local. E obviamente o PSD. Que também aspira à vitória, como já se percebeu.

É este partido o que mais vai subir, não tenho dúvida, nos próximos meses, nas sondagens que se fizerem. Para conseguir mais uns pontos, bastará anunciar um candidato, qualquer que ele seja, porque estamos a falar de eleições muito personalizadas em que os eleitores precisam de reconhecer um rosto, mesmo que seja para responder a um inquérito telefónico. O resto é na verdade uma incógnita. Porque, para ganhar, terá não só de recuperar os "votos" que entretanto "perdeu" nas sondagens para Narciso Miranda, como terá de ir "roubar" mais uns milhares ao PS.

Não arrisco prognósticos. Há três candidatos à vitória e pode bem acontecer que se chegue ao dia das eleições sem a mínima certeza sobre o que acontecerá nas urnas. O que me parece excitante. Porque vai obrigar a um debate mais profundo e porque haverá ainda mais lavagem de roupa suja. O que do ponto de vista do cidadão, parecendo mau, é excelente.

5 comentários:

Anónimo disse...

NOTICIA DE ULTIMA HORA:
Esta manha caiu um eucalipto em Esmoriz danificando 3 carros.
Para desespero dos que prezam a democracia participativa não foi o «Socrathis Eucaplitus»

Anónimo disse...

O eleitorado do Narciso é sempre o mesmo, entre os cafés da Av. D. Afonso Henriques. Beijinho, beijinho, mesmo que as mulheres não queiram. Fala na RCM sempre para a mesma plateia, esquecendo-se que muitas das vezes dá tiros nos pés, pois os vícios vêm do tempo dele. Não explica que as decisões duma Câmara são saempre da responsabiliadde do Presidente, mesmo que este delegue competências e no Urbanismo ele nunca deu a hipótese a ninguém, pois sempre em última análise era com ele, sobretudo em grandes projectos, por exemplo, como o Enseada. E, como atrás deixamos dito, o que se sabe é que as senhoras dos beijinhos são sempre as mesmas. E que as sondagens são sempre, ou na sua grande maioria, pagas pelo NM.

Rock Santeiro disse...

Viva, Rafael. Aqui fica um abraço e aproveito para te dizer que a tua análise é excelente. A propósito, o efeito Narciso está a complicar as contas ao PSD. É mesmo como tu dizes: subirá uns pontos quando alguém der a cara... mas quem quer dar a cara? Não está fácil, sabemos, mas é um momento único, nas últimas duas décadas, para os sociais-democratas em Matosinhos. E mesmo assim há mais recuos que vontades...

Anónimo disse...

Atenção: a queda do eucalipto em Esmoriz fica a dever-se à má gestão de Guilherme Pinto...

Anónimo disse...

Para quem conhece Matosinhos é uma análise realista e historicamente correcta. Só que, nestas,serão introduzidos factores surpresa . De muito dificil previsão e avaliação. Os maiores partidos, estão isso mesmo. Partidos. Em cacos. Carregados de contradições e ambiguidades. Só uma ideologia forte poderia, eventualmente, fazer a diferença. O PSD debate-se com a «cara e a careta». Se a cara é de Matosinhos, a escolha é dificil. Que oposição fizeram neste mandato? Politicamente inofensivos. Humanamente correctos e educados. Se a «careta» vem de fora tem de sujeitar-se , primeiro ao escrutinio da sondagem. E esperam por Narciso.
No PS, a «gataria» anda endiabrada. São focos de instabilidade. E corridas pelo lugar.Mas não há «cadeira» para todos. É problema maior para Guilherme Pinto : contentar todos que o seguraram. TAREFA IMPOSSIVEL. Por detrás de tudo isto, a personagem «sombra» de que ninguém fala . Manuel Seabra. Lá longe nos corredores do Poder. Cá perto, com os seus fieis, no terreno. Minando o exercicio camarario. Incendiando as relações Guilherme/Narciso. Ele sai por cima. Sem se queimar. Já deu para perceber as reacções de Parada, na Brito Capelo e , agora, na Enseada? Anda aqui mão de mestre. Dito doutra maneira: FACA de mestre. Nas costas. Sibilino. Sombrio. Nebuloso. Frio e calculista, nos passos que dá.
Guilherme, quando tomou posse, não quis, ou não pôde, aproximar-se, respeitar, narciso. Optou. Mal, a meu ver.
Guilherme tem 2 generos de facturas para pagar. Dizem que na câmara há imensas não cabimentadas. Sem cobertura orçamental. E há as outras. Dos militantes do aparelho que o meteram num saco. De gatos.Sem espaço de manobra, nem tempo para pensar.
E há o Narciso. Com todas as virtudes e qualidades.
Discordo que ele tenha partido cedo. Que ele tenha atingido o seu «pico». Não tinha outra forma de se apresentar. Manter-se vivo durante 4 anos, é obra. Foi isso que ele fez. É um homem de desafios e maratonas. De inegaveis qualidades politicas. Com um «faro» politico pouco comum. Manter-se à tona foi um merito indiscutivel. Daqui para a frente, acho que tem de mudar de discurso. Apresentar ideias e projectos. Sair do seu eleitorado tradicional e habitual. Aí estará a sua grande debilidade. Porque Matosinhos mudou demograficamente. Radicalmente.
Serão umas eleições diferentes. Imprevisiveis.
Um desejo. Que se discuta com elevação. Com nervo, mas sem nervos. Com truques, mas sem malabarismos excessivos. Truculento mas elegante. Que a vida privada de cada um, não venha a tornar-se em vicios publicos.
Aconselho, para o exercicio ser ainda melhor, que se façam comparações de todas as eleições, NÃO EM PERCENTAGENS MAS EM NUMERO DE VOTANTES EM CADA PARTIDO.
Verificarão que, nos ultimos anos há um crescimento, pequeno mas sustentado , de votantes no PSD. E um decrecimento, também sustentado, do PS.
Isso é que, a meu ver, retrata os avanços e recuos de cada partido