quinta-feira, 19 de março de 2009

Plano quinquenal


Mais uma entrevista do presidente da SAD do Leixões, Carlos Oliveira, desta vez ao Matosinhos Hoje. Ressalto aqui algumas das afirmações e acrescento os comentários que me sugerem. Umas vezes mais simpáticos, outras mais sarcásticos.

"Agora falamos de atrasos de dois meses [nos salários], mas quando cheguei ao Leixões eram de 7 meses para os jogadores e de 11 meses para o resto do pessoal."
Incontestável a diferença para melhor neste como noutros capítulos da vida do clube. Mas na minha modesta opinião, esta é mesmo a mais importante. É verdade que no mundo da bola se pagam salários demasiado elevados [e o Leixões não é excepção, como o próprio Carlos Oliveira reconhece noutras passagens da entrevista], mas na altura de assinar contratos, que se saiba, todos o fazem livremente. E se um assalariado faz o seu trabalho, tem direito à respectiva retribuição. O contrário é crime e deveria ser punido com prisão. Na bola como no têxtil.

"Nesta administração ninguém ganha, ao contrário de antigamente, em que os salários eram imorais: um administrador ganhava 4000 euros por mês (14 meses), além de despesas de telemóvel e de representação (pagámos muitas contas em restaurantes de Matosinhos, que vinham do antigamente, de almoçaradas e jantaradas). Comigo isso acabou tudo. Pagamos os nossos telemóveis e se tenho de almoçar com alguém pago do meu bolso."
Se fosse um gestor profissional e competente, não me parece que fosse assim tão repugnante. O problema é que não deve ter sido bem o caso. Na verdade, nesta era das SAD, da "indústria do futebol" e dos accionistas, a regra tem mesmo de ser a da remuneração. É um trabalho como outro qualquer. Ou então, voltamos ao modelo de clube, puro e duro (que por acaso prefiro numa instituição como o Leixões), e então sim, teria de ser por carolice. O que Carlos Oliveira não pode é pedir sol na eira e chuva no nabal [a linguagem que usa, para quase tudo o resto é a de um gestor de empresas], só para mostrar que é uma espécie de bom samaritano.

"Porque estão contra a Câmara ajudar se o Leixões é quem mais publicidade faz da nossa terra e mais gente cá traz quer pelo futebol, pelo volei, pela natação e pala Taça do Mundo de Bilhar entre outras, como as Jornadas Médicas..."
Apreciei sobretudo o prestígio que advém para Matosinhos da organização de Jornadas Médicas. Temos portanto o Leixões a fazer concorrência ao Hospital de Matosinhos [ou melhor, ULS de Matosinhos]. Quanto à Câmara ajudar o Leixões, nada contra, se não for através da participação no capital da SAD, ou através do Mar à Mesa, essa espécie de lavagem de dinheiro municipal [e portanto dos contribuintes] para pagar salários a profissionais da bola.

"Estamos muito mal para a formação e dependentes da Câmara. Acredito que esta vai cumprir o que prometeu apesar de haver sempre quem queira impedir ou atrasar (...) Penso também que a Junta podia fazer mais, quer directamente, quer usando da sua influência, mas a Junta não dá nada ao Leixões."
Quanto a formação, plenamente de acordo. Fala quem tem um rapaz com idade para sonhar que vai ser um Cristiano Ronaldo do Leixões e que portanto pode testemunhar que o nosso clube é o que pior trata os seus pequenos jogadores, com condições inqualificáveis. Nomeadamente quando comparadas com as que têm vários clubes da região e até do concelho. Quanto à referência à Junta de Matosinhos, percebe-se que as coisas estão mal Paradas, embora me confesse ignorante para perceber porquê.

"Como já disse estou a preparar um plano de cinco anos, que até pode ser de três anos, para finalizar a reconstrução do Leixões e acabar de eliminar o resto dos erros do passado. Com este plano quero preparar a minha saída."
Com esta afirmação parece querer contestar os boatos que correm semana sim, semana não, de que se vai embora. Afinal vem aí um plano quinquenal. Mas nunca fiando, porque já vi muita gente fazer promessas solenes destas e bater com a porta na semana seguinte. Até já aconteceu ciom um primeiro-ministro mais Durão que Carlos Oliveira. Caso para dizer que é melhor fazer prognósticos só no final dos cinco anos.


Tudo lido, relido e analisado, fica a conclusão. O Leixões atravessa uma das melhores fases desportivas da sua centenária existência. Carlos Oliveira terá os seus defeitos - e às vezes consegue até ser irritante - mas revela suficientes méritos para também merecer elogios. Na verdade muito poucos conseguiriam fazer melhor. E mesmo esta é uma percepção meramente académica, porque neste momento não vislumbro ninguém com essa capacidade. Acabasse ele com a promiscuidade autarquia/futebol [tarefa pela qual infelizmente não revela qualquer inclinação] e por mim poderia ficar os cinco anos necessários para cumprir o plano quinquenal.

2 comentários:

Ingrid Maganinho disse...

O que se pode esperar de apoios a uma SAD com ligações políticas tão fortes e visíveis, logo perigosas para qualquer investidor, as coisas na autarquia podem mudar a qualquer momento.

A cena mais triste que vi do meu clube em 38 anos, foi a festa comício em frente à CMM no dia em que Leixões garantiu a subida à 1º Liga. Nesse dia, pareceu que Vítor Oliveira, restante equipa técnica/Médica e jogadores eram segundos planos de Carlos Oliveira e principalmente Guilherme Pinto, dono do microfone que ninguém queria ouvir mas insistiu em impor a sua presença e discurso.

Como pode sobreviver um clube que vive afastado da realidade sócio-económica do concelho onde está inserido? O que foi feito de forma profissional para chamar os novos habitantes de Matosinhos, (muitos deles elevados quadros de empresas) para o clube?

A imagem do Leixões é do pior que há, falar do Leixões para a imprensa e alimentado pelos dirigentes é falar das peixeiras do mercado a "assassinar" o hino do clube ou dos borracholas nos tascos. Sejamos sérios, quem quer investir num clube com uma imagem destas? Qual o retorno de ter o nome associado a uma imagem destas? O marketing está errado ou nem existe e por isso não vende e se não vende, não rende.

Mesmo as vitórias estão sem destaque na imprensa o clube não se projectou numa conjectura que dificilmente se repetirá. A Sport Zone foi a pior opção em marketing, Estádio "Drive In" horrível e até motivo de chacota os carros dentro do estádio, a bandeira que é linda como bandeira mas um desastre como emblema, o discurso continua dirigido para a classe piscatória que quase desapareceu e a que existe está sem poder económico para ajudar.

Bilhetes caríssimos para não sócios, já estive para ir ver jogos com vários amigos não leixonenses que sentem curiosidade por o clube e vivem aqui, mas mesmo em jogos com clubes de longe e até da Madeira os bilhetes são a preços para não-sócios são exageradamente elevados.

Parabéns pela gestão financeira, mas acabaram-se os trunfos.

O Leixões precisa mudar a imagem, vender-se e conquistar novos públicos. Os velhos estão a ir e os novos são do vizinho FCP.

Façam protocolos com empresas e encham o estádio, só com as pessoas a irem viver os jogos e aprenderem a gostar do clube, poderá haver futuro.

Coloquem gente que saiba vender, a tratar da imagem do clube. Matosinhos tem grandes vendedores e são os melhores para o fazer (vejam o FCP começando pelo próprio presidente um ex. Vendedor).

A SAD devia ter mais trabalhadores. Para aparecer, qualquer um quer, mas para trabalhar...


Esta é a minha modesta opinião e como tal, vale o que vale.

Viva o Leixões

JOSÉ MODESTO disse...

Combinações a meu vêr sempre explosivas.
Futebol e politica - um "shot" autêntico.

Façamos a devida separação.
Nada contra o nosso clube, nada contra a politica, evitar a combinação.