segunda-feira, 16 de março de 2009

A manifestação e o julgamento

1 – 150 mil, 200 mil, 250 mil?... Interessa pouco saber quantos se juntaram em Lisboa, na sexta-feira passada. Mais expressivas do que qualquer número foram as imagens que passaram nas televisões, ou as que foram publicadas nas primeiras páginas de jornais. A CGTP foi capaz de colocar um mar de gente na Avenida da Liberdade em protesto contra as políticas do Governo. O que não se consegue apenas por haver dinheiro para pagar umas centenas de camionetas. Foi, antes, mais um sinal poderoso da pressão política e social que envolve o PS e José Sócrates.
No seu regresso de Cabo Verde, o primeiro-ministro lá se confrontou com a necessidade de comentar os números e os motivos da manifestação. E a reacção foi, como de costume em situações desta natureza, politicamente pobre. Na redutora visão de José Sócrates, aquelas dezenas de milhares de portugueses saíram à rua apenas para o insultar. Sendo que é apenas gente manipulada por comunistas e bloquistas. Imagina-se o tamanho do sorriso de dirigentes de um e de outro partido, ouvindo elogios destes à sua capacidade de mobilização.
No reverso da medalha, enquanto Sócrates demonstra a sua irritação com qualquer manifestação que apareça, Cavaco Silva vai dando conta da sua preocupação e tristeza com a situação que se vive no país. E em Barcelos, quando confrontado com um grupo de operários vítimas do encerramento de fábricas, que se manifestavam à porta da Câmara, decidiu romper o protocolo e oferecer-lhes solidariedade. “Sei que é pouco”, disse, “mas não tenho mais para vos dar”. É curioso perceber como Cavaco está cada vez menos “cavaquista”, enquanto Sócrates vai fazendo o caminho inverso.
2 – Desconcertante a fórmula encontrada por Pinto da Costa para protestar inocência junto do Tribunal que o está a julgar pela acusação de corrupção: “Se eu estou a faltar à verdade, então que caiam todos os males sobre o que mais amo na vida – a minha filha”. Não se duvidando do amor do pai pela filha, argumentos desses ainda não servem para decidir, felizmente, se alguém é culpado ou inocente. E até contribuem para transformar o que devia ser um acontecimento solene - um julgamento - numa sessão de mau gosto.
Uma das conclusões que se pode retirar do que se ouviu é que Pinto da Costa é um homem acossado. E que já não sabe bem nem por quem nem porquê. E talvez por isso tenha também aproveitado para pedir castigo divino para todos os que “forjaram a tramóia” em que está envolvido. Tão bem forjada que até o Ministério Público se deixou levar pela mistificação, pedindo a sua condenação.
Ignoro se o presidente do F. C. Porto é culpado ou inocente. Essa é uma tarefa para o juiz que presidiu ao julgamento. Mas independentemente da sentença, o que começa a ser evidente é que o seu tempo como líder dessa grande instituição da cidade do Porto já passou. Ele é que ainda não percebeu.
(*) Comentário originalmente publicado no JN desta segunda-feira

2 comentários:

Anónimo disse...

Ó Sr. Rafael que é que tem a ver com o que se passa no F.C.Porto?
Quem escolhe os seus dirigentes são os sócios. O Sr. é sócio?
Pois bem, eu como sócio há mais de 20 anos, quero a presidente, por muitos e bons anos, o Sr. Pinto da Costa.
Trate de olhar por aquilo que lhe diz respeito. Ao que consta a redacção do JN está uma calamidade!

Anónimo disse...

A «colagem« de uma etiqueta num politico não é positivo. Nos actos práticos é que se vê. Não nos discursos ou nas promessas. Se puxarem o «filme» atrás. Se percorreram o passado politico dalgumas estrelas de hoje. Se soubermos «ler» nas entrelinhas o posicionamento e as colagens. Se compararmos o que eram e o que são. O que faziam e onde estavam. Em que manifs estavam. Que palavras de ordem gritavam. Quem defendiam e quem defendem. Que autocolante tinham na lapela. Que escadas e corredores hoje percorrem.Ficaremos elucidados.
A importância de não termos memória curta é fundamental. Para se poder decidir, em consciencia. De Cavaco não se espera mais do que é. Politicamente, aquilo que sempre foi. De Socrates, também não. É, politicamente, o retrocesso às suas origens. Com uma diferença, entre os dois. Cavaco assumiu-se e não mentiu. Socrates, limpou a sua génese - JSD - fez-se passar por aquilo que, de facto, não é. E na politica ainda é importante ser «vertical».
Quando os cidadãos mais desfavorecidos se agarram a Cavaco, está tudo dito. Quando os desempregados ouvem palavras de incentivo de Cavaco, é porque o Partido no Poder, feneceu. Já não é dos desfavorecidos. Nem da solidariedade. Nem dos valores. Nem de principios.Nem de Lech Walesa. Brandt. Mitterand.
Para a «nomenclatura» do PS, os valores agora são outros.
A vida está muito dificil. E eles, que transitam de lugar para lugar, eles que ocupam as presidencias, eles que têm sociedades de advogados, eles que pululam, em conselhos ficais e assembleias gerais de fundações, bancos e associações acumulando mordomias, eles que comentam por tudo quanto é canto,e influenciam descaradamente a opinião publica, eles , desafortunadamente, para o povo, que está cá em baixo, só pensam nas «listas». E mentem-nos. Ignoram-nos. São insensiveis. São petulantes. São intragavelmente desumanos.
Que 1º ministro é este que ignora os protestos de milhares? Em vez de perceber, os protestos justos - a eventual colagem do PCP ou do BE não retira idoneidade - «achincalha», lá do alto da sua prepotencia.
Não vai ter futuro fácil. É um idolo com pés de barro. Vai ser um homem só. Quando os camaradas perceberem e tiverem a «força». Que pode mudar Portugal.