sexta-feira, 6 de março de 2009

The show must go on...


A mim sempre me ensinaram que a uma criança não se dá um chupa-chupa, para depois lho tirar outra vez. É uma crueldade. Assim não devem pensar os vendedores da pretensa magia de Hollywood.
Vem isto a propósito do "oscarizado" filme "Quem quer ser bilionário?" e de uma das suas personagens, interpretada por uma menina de uma das "favelas" de Bombaim, Rubina Ali.
A edição de ontem do El País mostra uma menina sorridente, no Kodak Theatre, com um Óscar na mão, de vestido brilhante e sedoso, bandolete a prender o cabelo, lavado e penteado.
Ao lado, uma outra foto, tirada alguns dias depois, da mesma menina, com um sorriso menos brilhante, quase envergonhado, com roupas menos sedosas e o cabelo meio desalinhado, já no seu habitat, um tugúrio qualquer daquela cidade indiana.
É assim o mundo de silicone em que vivemos. Num dia dá-se o chupa-chupa à menina, e já agora um vestido novo e uma estadia num hotel de luxo, no outro tira-se tudo e devolve-se à procedência e a um quotidiano miserável.
Apesar de tudo teve um pouco mais de sorte que o seu par no filme, Azharuddin Ismail, 10 anos. Quando regressou a casa levou logo uma lambada do pai, alcoólico e tuberculoso, por não se ter disponibilizado a comparecer perante a turba de jornalistas que se juntou à porta do barraco.
Não desesperem, nem se entristeçam. Não tardará que apareça quem precise de um pouco de publicidade e os arranque da miséria em que vivem para os instalar num apartamento de um subúrbio qualquer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um raciocinio perturbante. E perturbador. Humanamente arrepiante e que nos põe desafios futuros. Quem «usa» quem? Crianças indefesas, pior. Adultos, pretensamente convictos, também.Um vale «quase tudo» que nos transformou. Em que nos transformamos. Penso logo, nas eleições. Nas apologias dos bem aventurados. Nas hipocrisias dos vendedores da «banha da cobra».
Sou, por formação, de esquerda Nos valores, nos principios, na solidariedade. Mas prefiro o «aconchego» de gente de direita,para mim distante, desde que convictos e defensores dos seus valores. Do que, «gentalha» de esquerda, de slogans, de oportunismos. Que hoje «joga» duma maneira, no discurso. Porque precisa. Mas depois, no comando da carruagem, esquece compromissos e promessas. Prefiro a luta «rude» sem tréguas, mas leal, com o adversario da direita. Do que o combate, pretensamente leal, mas hipocrita, com quem se diz de esquerda. Este adversário é bem mais dificil de combater. Por isso, Matosinhos e Portugal, é um «todo central» em que repartem oportunidades.E favores. Hoje, dou eu, Amanha, dás tu.
Mas que tem isto a ver com o comentario?
Tudo. O cinismo, a hipocrisia, a publicidade, o marketing, a insensibilidade, os «compadrios», os «vendilhões do templo» estão aí. Ao virar da esquina. Ainda escondidos. Ainda há procura do melhor e mais oportuno filão. A politica está reduzida ao seu expoente minimo. É menor divisor comum das n/vidas.
Vão ver. Como em Matosinhos, não demora muito tempo, irão desencantar quem vive mal, quem sofre, quem precisa. Para fazerem um «número» de marketing. Depois, os que entraram no «filme», afinal os mais autenticos e genuinos, são esquecidos. Até às eleições seguintes.
Mas o exemplo vem sempre de cima. Toda a estrutura superior e intermedia do Estado, está «socratinizada». Em tiques, em valores, em poses, em discursos, em obstinação.Tenho imenso receio que este virus, que se propala com enorme velocidade, venha para ficar. E infernizar as nossas vidas.
Diz o povo, e com sábia razão, no alto da sua desconfiança : «NINGUÉM DÁ NADA A NINGUÉM».
As conquistas, de quem nada tem, faz-se no dia a dia. Sempre de coluna «vertebral» bem vertical.
Paradoxal. Sendo de esquerda, preferia Caetano a Socrates.Veiga Simão a Lurdes Rodrigues.Duarte Pacheco a Mario Lino. Só para Santos Silva não encontro um comparativo. Porque ele é incomparavel. No alto da sua indecencia intelectual. Ou , como diria Mourinho, «prostituição intelectual». Acho que o melhor treinador do Mundo, homem doutros titulos, achou um bom titulo para eu «colar» ao Santos Silva. PERFEITO.
OBRIGADO «SPECIAL ONE»

JOSÉ MODESTO disse...

Caro Rafael, excelente este seu comentário.
Infelizmente não podemos mudar mentalidades...curiosamente alguns países Europeus entre os quais Portugal, caminhamos na direcção errada, a essencia de uma país está na Educação, é nela que devemos apostar.