quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Retail Park


Um projecto de relevante interesse público municipal. Sobretudo na actual conjuntura económica e tradicional. Quem assim argumenta é uma tal de Divisão da Promoção da Economia Local [belo emprego] da Câmara Municipal de Matosinhos.
E o que defendem com tanta veemência os promotores da nossa economia? Uma unidade de semi-condutores? Um centro de investigação? Uma fábrica seja lá do que for?... Não faltava mais nada, estamos em Matosinhos, o que está a dar é a especialização na venda de calças, colchas e estampados. O que nos propõem é, por isso, um "retail park". Porque nesta época de crise, o que os portugueses, e sobretudo os matosinhenses, precisam mesmo é de sítios onde gastar os euros que não têm.
E escusam de ser maledicentes, porque o projecto tem várias vantagens. Uma delas é o facto de nos livrar de mais uns metros quadrados de Reserva Ecológica Nacional. Eu pelo menos não conheço ninguém que se alimente de erva. E o "retail" terá certamente uns cafés e quem sabe algum McDonald's ou até [há que ser ambicioso] um restaurante Frango da Guia.
Por outro lado, como também nos explicam, representa um investimento de 40 milhões de euros, que inclui novas estradas e parques de estacionamento, o que constitui um óbvio sinal de modernidade, mesmo que as ditas infra-estruturas sirvam exclusivamente o tal "retail".
Finalmente, a cereja no topo do bolo. Vai criar 1800 postos de trabalho directos. Os 150 trolhas que o vão construir, mais para aí uns 20 empregados por cada uma das 16 "mega-stores", o que dá logo para uns 320.
Só isto já dá 470 empregos, embora provisórios, porque a obra há-de acabar um dia e os trolhas terão de procurar outro "retail" para construir, enquanto as lojas também hão-de fechar, embora neste caso haja sempre a hipótese de reconverter os espaços para lojas de chineses.
Claro que ainda estamos longe dos 1800 anunciados, mas é só porque me esqueci de contabilizar os operadores de gruas.
Depois temos ainda os postos de trabalho indirectos, que parece que vão ser mais 500. Para aí uns 50 serão arrumadores, outros 50 contratados pela Câmara para fiscalizar as obras, mais 50 para criar os frangos para o Frango da Guia, e os restantes não sei, perguntem à Divisão de Promoção de Economia Local...

5 comentários:

Anónimo disse...

É uma vergonha que a Câmara que considerou o desenvolvimento económico como uma das suas prioridades, até tem um Pelouro com esse nome,o que de mais relevante tem feito é autorizar a instalação de grandes superfícies no concelho. Seguem-se umas às outras. Não sei o que os atrai ...
Entretanto, o pequeno comércio local vai definhando tendo encerrado centenas de estabelecimentos nos últimos anos. Brito Capelo que poderia ser um shopping ao ar livre é bem o exemplo do desnorte das sucessivas Câmaras nesta matéria. Os agora inimigos foram cúmplices da ruína desse espaço que era uma referência de Matosinhos. Mas nunca souberam nem sabem o que fazer com ela. E os resultados estão à vista. Os inimigos de agora
já mostraram do que são capazes ou melhor as suas incapacidades. O que os divide agora é o Poder e, quem sabe, o que dele pode resultar. Tanto e tão doentio interesse não pode deixar de levantar algumas questões ...

Anónimo disse...

Na verdade, mais investimento privado num país em crescimento galopante como o nosso é um absurdo.
Ainda por cima nesta fase em que não existe desemprego, em que as empresas vão de vento em poupa e os portugueses têm um nível de vida como nunca tiveram nos últimos 50 anos.
Permitir-se a um promotor que invista em Portugal quarenta milhões de euros é realmente um absurdo.
Mandem-no para Espanha ou França, ou Alemanha, quiçá, até para as Américas, Países subdesenvolvidos e que estão, esses sim, nesta fase, desejosos de investimento público e de criação de postos de emprego.
Nós por cá não queremos investimento. Não queremos e não precisamos, pois vivemos todos desafogados e com emprego estável.
Estes promotores…
Onde já se viu, agora que Portugal está tão bem é que se propõem investir em Portugal.
Se estivéssemos mal, nenhum se chegava… são todos iguais.
O que vale é que estamos todos atentos para impedir que tal aconteça. Mesmo muito atentos…

José Carlos Rendeiro

Rafael Barbosa disse...

Está a confundir investimento com construção. Quando esta não traz qualquer valor acrescentado é apenas sinónimo de betão, poluição ambiental e subdesenvolvimento. A gestão de um concelho não se faz com a aprovação cega de tudo o que aparece. Faz-se tentando captar investimento que produza riqueza. Em vez de se promover o que quer que seja só para conseguir mais umas receitas de impostos e taxas. E também não é bonito encher a boca com milhares de emprego quando, boa parte do que se diz é pura ficção, e a outra é apenas trabalho precário e mal pago.

Anónimo disse...

Não me parece nada cega a decisão do executivo. Muito pelo contrário.
Em primeiro lugar pelo emprego gerado com o empreendimento, pois não nos podemos esquecer dos milhares de cidadãos inscritos nos diversos centros de emprego (inclusive Matosinhos), a receber dos nossos impostos o respectivo subsídio, diga-se inferior aos “precários” salários proporcionados por este investimento e que mal lhes permite subsistir.
Em segundo lugar pela dinâmica económica envolvente proporcionada pelo investimento, inicialmente, projectistas, consultores, construtores, etc. e, futuramente, produtores, empresas de transporte, prestadores de serviços, etc., etc.
Em terceiro lugar porque vão os habitantes de Matosinhos e dos Concelhos limítrofes usufruir de um melhoramento, já há muito justificado, de infra-estruturas rodoviárias, com o previsto alargamento da N. 13 (mais uma faixa) e construção de uma rotunda desnivelada, permitindo uma maior fluidez de trânsito nessa via, mas também na N.14, tudo, a custos do promotor.
Em quarto lugar porque o terreno particular em causa tem mais de 165 000 m2, e está, como devem saber, ao completo abandono, tendo sido uma parte do mesmo, inclusive, há anos alcatroada. O Retail será construído totalmente fora dos limites da REN, prevendo-se a recuperação paisagista do terreno restante. Pelo que também existiu aqui uma preocupação ambiental. Aliás, a única preocupação ambiental existente naquela zona desde há muitos anos a esta parte, pois todos conhecem, certamente, o estado de poluição actual quer da zona, quer do próprio Rio Leça.
Em quinto lugar porque o que, verdadeiramente, foi discutido na Câmara Municipal foi o interesse público do alargamento das infra-estruturas públicas rodoviárias supra referidas e o acesso ao lote já previsto em PDM. Quem utiliza aquelas vias sabe bem que já há muito deveriam ser alargadas pois já não satisfazem as exigências de escoamento de tráfego, actuais. Alargamento que mereceu parecer favorável das Estradas de Portugal.
Assim, com o devido respeito, tenho que discordar da vossa opinião e manter que este empreendimento seria bom e deveria ser merecedor de aplauso em qualquer fase económica, mas, na actual conjuntura, ele é indispensável para contribuir para a inversão do ciclo onde estamos mergulhados.
Precisamos de mais… sem dúvida.
Mas já nos apercebemos que quem tem o capital desloca-o para países onde o investimento é mais rentável, com maior facilidade de concretização e menos sujeito ao risco e à crítica… E, “nós por cá”, podemos ficar a “chuchar no dedo” mantendo a velha máxima “orgulhosamente sós”, a que acrescentaria, um “e desempregados”, talvez ainda um “e falidos”.
Claro está que podem sempre os Portugueses desempregados emigrar para países onde se acarinhem investimentos deste e doutros tipos, aí procurando emprego, trabalhando, gastando o seu dinheiro e pagando os seus impostos.

José Carlos Rendeiro

Anónimo disse...

Seria bom nesta discussão, sem dúvida importante e que deveria merecer muita ponderação por parte da Câmara, analisar a evolução do tecido económico de Matosinhos. Com efeito, o que revelam os dados estatísticos é que se tem privilegiado a implantação de grandes superfícies, concedendo facilidades, sem levar em conta o impacto no pequeno comércio local.
Além disso, nenhumas medidas têm sido tomadas visando a atracção de empresas industriais, área económica que cracterizava Matosinhos e que foi peça fundamental no seu desenvolvimento. Matosinhos hoje, e de há muitos anos anos a esta parte, é, sem dúvida, um bom exemplo da aplicação prática da máxima do "exemplar" Ministro da Agricultura de Bruxelas em comissão de serviço no Governo Socratiano que afirmou que "mais vale importar que produzir". Assim vai este concelho e este País, subjugados a interesses que não são os seus. Matosinhos vai-se transformando numa catedral do consumo, para quem pode, como se para consumir não fosse necessário produzir. Fala-se no emprego que se cria, mas não se considera o emprego que é destruido nem o tipo de emprego que é criado, fundamentalmente precário.
Matosinhos merece melhor, outras políticas que cortem com as práticas que GPinto executa e são a continuidade do seu mestre.