segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O mercado pode ser livre?


1 - Começa a ser tempo de aplicar à economia aquela máxima que diz que a liberdade de um acaba quando começa a liberdade do outro. E vem isto a propósito do vertiginoso carrossel de despedimentos a que vimos assistindo nas últimas semanas. De repente, todos os gestores de empresas - sejam daqueles formados em escolas com nomes anglo-saxónicos, sejam os que subiram a pulso ou a golpes de cotovelo - descobriram que é preciso reduzir custos. A forma mais rápida de o fazer é com despedimentos. Já nem interessa se a empresa atravessa ou não um período difícil. Se não atravessa agora, é certo que isso acontecerá nos próximos dias ou semanas. Sobretudo quando se vive uma crise que também é alimentada pelo pânico e que, por isso, tem as costas ainda mais largas. Tão largas que o homem mais rico do país não hesita quando se trata de transformar a crise numa oportunidade. E logo através da Corticeira Amorim que, em 2008, registou mais de 10 milhões de euros de lucros. Eu repito, 10 milhões, ou, para os mais antigos, dois milhões de contos. Presume-se que para 2009 a previsão de lucros seja menor. E à conta dessa presunção, 193 pessoas, as mesmas que contribuíram para os fabulosos lucros da Corticeira Amorim em 2008 e nos anos anteriores, vão para o olho da rua. É por causa de casos como este - e não é único, apenas o mais mediático - que se percebe a proposta arriscada que Francisco Louçã apresentou este fim- -de-semana: proibir, por decreto, uma empresa com lucros de despedir os seus trabalhadores. Um disparate? Uma medida soviética? Um dislate de um esquerdista radical? Poder-se-á dizer o que se quiser. Eu por mim limito-me a observar que o livre arbítrio só pode ser aplicado ao mercado se não se resvalar para a arbitrariedade. E o problema é que é precisamente isso que está a acontecer.



2 - E de repente as notícias já não remetem para a investigação, mas para quem investiga. Porque de repente todos os magistrados que estão envolvidos no processo Freeport se sentem vigiados, ou escutados, por misteriosos espiões. Detectaram-se vírus informáticos desconhecidos e telemóveis que fazem barulhos esquisitos. É um clássico. As "secretas" - tal como a crise de que se fala mais acima - também têm as costas largas. Porque, se estiverem a investigar, têm de o desmentir, uma vez que as investigações são "secretas". Se não estiverem a investigar, também têm de desmentir. Num caso como no outro, fica a suspeita. E assim se junta mais uma anedota ao caso Freeport. No caso presente, ainda temos um procurador-geral da República que parece alimentar a farsa, quando, em tom de brincadeira, terá comunicado aos seus pares do Ministério Público que pediu ao chefe dos espiões que investigasse as fugas de informação relativas ao caso Freeport. E daí rapidamente se conclui que pediu à "secreta" que investigue magistrados. Ou seja, que um dos garantes da legalidade terá pedido que se cometa uma ilegalidade. Não dá para acreditar.
(*) Crónica originalmente publicada no JN desta segunda-feira

1 comentário:

JOSÉ MODESTO disse...

Caro Rafael, interessante este seu artigo, O mercado pode e deve ser livre, desde que haja limitação e controle nas fronteiras.