Um projecto de relevante interesse público municipal. Sobretudo na actual conjuntura económica e tradicional. Quem assim argumenta é uma tal de Divisão da Promoção da Economia Local [belo emprego] da Câmara Municipal de Matosinhos.
E o que defendem com tanta veemência os promotores da nossa economia? Uma unidade de semi-condutores? Um centro de investigação? Uma fábrica seja lá do que for?... Não faltava mais nada, estamos em Matosinhos, o que está a dar é a especialização na venda de calças, colchas e estampados. O que nos propõem é, por isso, um "retail park". Porque nesta época de crise, o que os portugueses, e sobretudo os matosinhenses, precisam mesmo é de sítios onde gastar os euros que não têm.
E escusam de ser maledicentes, porque o projecto tem várias vantagens. Uma delas é o facto de nos livrar de mais uns metros quadrados de Reserva Ecológica Nacional. Eu pelo menos não conheço ninguém que se alimente de erva. E o "retail" terá certamente uns cafés e quem sabe algum McDonald's ou até [há que ser ambicioso] um restaurante Frango da Guia.
Por outro lado, como também nos explicam, representa um investimento de 40 milhões de euros, que inclui novas estradas e parques de estacionamento, o que constitui um óbvio sinal de modernidade, mesmo que as ditas infra-estruturas sirvam exclusivamente o tal "retail".
Finalmente, a cereja no topo do bolo. Vai criar 1800 postos de trabalho directos. Os 150 trolhas que o vão construir, mais para aí uns 20 empregados por cada uma das 16 "mega-stores", o que dá logo para uns 320.
Só isto já dá 470 empregos, embora provisórios, porque a obra há-de acabar um dia e os trolhas terão de procurar outro "retail" para construir, enquanto as lojas também hão-de fechar, embora neste caso haja sempre a hipótese de reconverter os espaços para lojas de chineses.
Claro que ainda estamos longe dos 1800 anunciados, mas é só porque me esqueci de contabilizar os operadores de gruas.
Depois temos ainda os postos de trabalho indirectos, que parece que vão ser mais 500. Para aí uns 50 serão arrumadores, outros 50 contratados pela Câmara para fiscalizar as obras, mais 50 para criar os frangos para o Frango da Guia, e os restantes não sei, perguntem à Divisão de Promoção de Economia Local...