segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A crise


1.Borgstena, Nelas: 108 pessoas; Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha: 150 pessoas; FEHST, Braga: 170 pessoas; Unidade de Saúde de Coimbra: 100 pessoas; Intipor, Amares: 150 pessoas; Philips, Ovar: 70 pessoas; Camac, Santo Tirso: 290 pessoas; Subercor e Vinicor, Santa Maria da Feira: 150 pessoas; Diehl, Vila do Conde: 60 pessoas; Ecco, Santa Maria da Feira: 180 pessoas; Citroën, Mangualde: 400 pessoas; Qimonda, Vila do Conde: 1700 pessoas.
A lista é extensa, mas não é exaustiva. Resulta da leitura apressada das páginas de um só jornal, durante a última semana. Associadas a esta lista negra aparecem notícias sobre despedimentos colectivos, falências, salários em atraso. Um caldo que culmina quase sempre em desemprego. Uma dúzia de casos, apenas os que conseguem cobertura mediática. Muitos ficam por relatar, sobretudo no universo das pequenas e médias empresas. E mesmo assim, sabendo-se que são contas por defeito, são mais de 3500 pessoas que já perderam ou estão a caminho de perder o seu emprego. Em apenas uma semana. O ano tem 52. É só fazer as contas. E perceber que o pessimismo de Teixeira dos Santos, quando aponta para 45 mil novos desempregados em 2009, revela, afinal, um perigoso excesso de optimismo.

2. As contradições do tempo que vivemos são surpreendentes. Num dia, ouvimos dizer que, se conseguirmos manter o emprego, vamos ter mais dinheiro no bolso graças à descida das taxas de juro e da inflação. No outro, dão-nos conta de mais uma subida no número de desempregados e portanto do número de pessoas que ficam sem dinheiro no bolso. Num dia, explicam-nos que é preciso estimular o consumo para vencermos a crise. No outro, ficamos a saber que são cada vez mais os que já não são capazes de pagar as dívidas contraídas para consumir.
Os tempos são desesperados, mas o pior é que não se vislumbra lucidez. De todo o lado surgem apelos para que se aumente o consumo. Chega-se ao ponto de ouvir reputados economistas explicar que esse apelo se deve dirigir sobretudo às classes média e média-baixa, precisamente porque são os mais vulneráveis às campanhas. Resumindo, quando o discurso deveria ser de austeridade e poupança, é afinal feito de apelos à irresponsabilidade. Em vez de poupar para garantir o amanhã, gastar como se não houvesse amanhã.

3. Berardo já nem deveria merecer uma nota de rodapé. É apenas mais um especulador que assistiu ao estilhaçar da sua pseudo-fortuna nesse mundo de ficção que é a bolsa. Acontece que se ficou agora a saber que há bancos dispostos a prolongar a ficção do comendador. E que entre eles está a CGD, um banco público. Quando era retratado como uma figura quase messiânica, Berardo conseguiu que a banca lhe emprestasse 1000 milhões de euros para comprar acções do BCP. Como garantia apresentou as acções que comprou. Só que, com o fim da ficção, as acções já só valem 190 milhões. Revelando com Berardo uma generosidade que não tem perante o cidadão sem capacidade para pagar o empréstimo da casa, a banca prolongou o prazo do empréstimo e congelou o pagamento de juros por mais quatro ou cinco anos. Esperando que nesse intervalo as bolsas recuperem. Há gente que não aprende nada. E que não tem vergonha.
(*) Crónica originalmente publicada no JN desta segunda-feira

1 comentário:

JOSÉ MODESTO disse...

Ser pobre durante um dia, não custa nada. Custa é sê-lo todos os dias...