quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

E nós a vê-los passar

Nada se discute em Matosinhos. Nenhuma decisão merece debate público prévio e sério. Agora, como antes. Tudo se faz no segredo dos gabinetes. Na verdade, nem sequer entre autarcas eleitos na mesma lista se discutem as opções estratégicas para a cidade e para o concelho [o que não se divulga, não existe]. E se é assim entre eles, muito menos se discute ou sequer se informa os cidadãos. Quando a informação chega é já sob a forma de propaganda. Agora, como antes.
Pergunta. Quantas vezes se lembram de ter havido, em Matosinhos, qualquer espécie de discussão séria e prévia sobre a expansão da rede de metro, sobre o que se deve ou não fazer, sobre que linhas são importantes, como ou quando fazer? A pergunta é retórica, porque já se conhece a resposta. O povo não percebe nada disto e as nossas elites políticas têm mais que fazer [fora a célebre passeata de há uns anos, em que se foi de avião mostrar umas linhas de metro de superfície a uma meia dúzia de contestatários da Senhora da Hora].
O tema e a pergunta trazem água no bico? Certamente. Chegam a propósito de mais uma reunião pública – e friso pública, porque significa que os munícipes puderam assistir – da Câmara do Porto, em que Oliveira Marques (presidente da Administração da Metro) e Álvaro Costa (professor da Faculdade de Engenharia) foram explicar o projecto de desenvolvimento da rede de metro. Concretamente, e cito, as alternativas para a ligação Ocidental entre Matosinhos e Porto. Leram bem, entre Matosinhos e Porto.
Pois... não me consta que esta apresentação e este debate se vão repetir por cá. Como não se repetiu em vezes anteriores. Pela simples razão de que cidadania é por aqui palavra vazia. Tem servido apenas para temperar discursos do passado e do presente. Na verdade, nem a esmagadora maioria dos cidadãos a quer exercer, nem os gestores políticos estão interessados em promovê-la. Democracia participativa? Lagarto, lagarto, lagarto…
Adiante. Uma vez que por cá nada se debate, fiquemos ao menos a saber, através do Porto, o que se prepara. Os dois técnicos foram explicar, por exemplo, que comparando as propostas para ligar Matosinhos e Porto, é a que segue pelo canal da Avenida da Boavista que revela maior potencialidade. Para quem não se recorde ou não saiba, se e quando esta linha avançar passará a ser a ligação principal entre o centro de Matosinhos e a Boavista, secundarizando a actual Linha Azul.
Pelos vistos, o segundo percurso mais apetecível entre as duas cidades é a linha que agora se propõe a partir da Senhora da Hora, cruzando S. Mamede de Infesta, para “engatar” na Linha Amarela, ali junto ao Hospital de S. João. Aliás, Oliveira Marques e Álvaro Costa defendem que esta ligação é útil e complementar a uma nova ligação pela Boavista. Não é apenas uma alternativa. Mas haverá quem lute para que isto possa ser assim?
Outras perguntas. O que pensa a Câmara de Matosinhos sobre estas matérias? Se tiver de optar, prefere a Boavista ou S. Mamede? Será que alguém pensa ser interessante trazer a Administração e os estudiosos do metro a Matosinhos? Quem vai fazer o convite? A Câmara não tem um representante na Administração da Metro? Quantas vezes reuniram Narciso Miranda e Guilherme Pinto, nestes dois últimos anos, para acertar posições sobre a matéria? A cidade terá de pagar os arrufos entre estes personagens? A ligação pela Boavista, a fazer-se, incluirá extensão entre o Senhor de Matosinhos e Leça da Palmeira? Os técnicos da autarquia foram sequer consultados por quem fez os estudos mais recentes sobre os melhores percursos ou a localização de estações? Alguém na Câmara saberá sequer do que estou para aqui a falar?