segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O país do Bruno


1 - Lembrei-me do humorista Bruno Nogueira quando fazia compras de Natal na FNAC. Escolhia livros e, de repente, num dos escaparates, dei de caras com a fotografia de João Rendeiro, administrador do Banco Privado Português, o tal que se especializou na gestão de grandes fortunas. A obra garante-nos “O testemunho de um banqueiro”. O que até poderia ser interessante nos tempos conturbados que correm. Só que o olhar pára em seguida num dos subtítulos e fica-se surpreendido quanto à versão que de facto nos querem contar: “A história de quem venceu nos mercados”. Como no mesmo dia fui bombardeado com notícias que davam conta do aval do Estado a uma operação concertada de vários bancos para salvar o BPP da falência fiquei confundido. Vencer nos mercados seria sinónimo de falência? Foi nessa altura que me lembrei de Bruno Nogueira. Porque é dele a mais carregada caricatura sobre a actual crise financeira. Explicava o humorista, com programa na TSF, que está errado quem pensa que tem havido uma grande vaga de assaltos a bancos. O que tem havido, isso sim, é muitos gatunos de visita à família. Burlesco. Mas não tanto como usar dinheiros públicos para garantir que uma dúzia de especuladores mantenha as suas fortunas intactas.

2 – Os nossos deputados deram mais uma magnífica lição sobre o seu empenho na vida política. Sobretudo os do PSD. Não estivessem cerca de 30 sociais-democratas ausentes da Assembleia da República e teria sido aprovada uma proposta para suspender o processo de avaliação dos professores. Um enorme sarilho para José Sócrates. A proposta teria sido aprovada porque houve deputados do PS que votaram ao lado da oposição e porque outros socialistas também fizeram o favor de partir mais cedo para casa e para um fim-de-semana prolongado. Compreende-se. Como na semana em causa só tinha havido um feriado, alguns dos parlamentares do PSD e do PS já deviam estar muito cansados. Foram três dias de trabalho, já não dava para aguentar a sexta-feira. Ou isso, ou os deputados fazem questão de garantir bom material aos humoristas como Bruno Nogueira.

3 – O preço da gasolina e do gasóleo vai descendo, é verdade. Mas estamos em Portugal e há sempre gato escondido com rabo de fora. O preço do petróleo está nos 40 dólares, o mesmo que se registava em Janeiro de 2005. Acontece que, também nessa altura, o gasóleo era 20 cêntimos mais barato e a gasolina custava menos 10 cêntimos do que hoje. Acresce a isto que de então para cá o euro valorizou face ao dólar. Ou seja, para quem paga em euros, como nós, o petróleo está substancialmente mais barato agora do que em Janeiro de 2005. Adaptando a rábula bancária de Bruno Nogueira às petrolíferas, dir-se-ia que também nas estações de serviço tem havido, nos últimos tempos, muitas visitas familiares.
* Crónica originalmente publicada no JN desta segunda-feira

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