Quando, num mesmo contexto, ouço falar de autarquias e futebol, passam-me logo pela cabeça imagens como o Major Valentim e o seu roupão do Apito Dourado ou a “brasileira” Fátima do Saco Azul de Felgueiras. Não são imagens simpáticas. Imaginem, pois, a minha contrariedade quando alguém me recorda, por palavras ou actos, que em Matosinhos este cruzamento entre autarquia e futebol é bem real. Vá lá, concedo, pelo menos temos personagens com mais estilo do que em Gondomar e Felgueiras – se exceptuarmos aquela senhora loira platinada, filha do rei das lulas, ou lá o que é, que às vezes se anda a pavonear pelo Estádio do Mar.Vem esta arenga a propósito dos 503 mil euros de impostos dos contribuintes que, na reunião de Câmara de amanhã, receberão guia de marcha para a conta bancária do Leixões. E atenção, são “só” 503 mil euros, porque se desconta ao subsídio os 161 mil euros que o clube devia à autarquia, bem como os 150 mil euros que já tinham sido entregues há cinco anos (!?) para instalar as torres de iluminação. Ou seja, feitas as contas são, no total, 815 mil euros para a SAD, perdão, para o clube, para pagar as recentes obras de renovação.Pergunto eu - que sou leixonense, com quotas em dia, presença assídua no Mar e em alguns jogos fora - pergunto eu, por alma de quem os munícipes, sobretudo os que não são do Leixões, e ainda mais os que não gostam de futebol, têm de suportar estes delírios? A Câmara explica que o Leixões proporciona actividade a centenas de atletas, mas sabe bem que isso é desculpa de quem tem problemas de consciência. As obras no Estádio beneficiam, exclusivamente, os atletas profissionais e o público que lá vai assistir aos jogos. E não estamos a falar de espectáculos de acesso livre, paga-se bilhete, dão lucro e são organizados por uma empresa (a SAD do Leixões).Claro que esta questão remete para outra, igualmente grave, na minha opinião. A Câmara de Matosinhos é accionista da SAD do Leixões e já lá injectou 800 mil euros, ainda no tempo de Narciso Miranda. No tempo em que Guilherme Pinto era “vice” na Câmara e administrador na SAD. Presumo que para pagar salários e contratar jogadores, que é para o que servem as SAD.Não consigo perceber o interesse público de nada disto, seja da participação accionista, seja do subsídio para uma actividade profissional. E acho até que merecia um olhar atento de quem legisla. Se não há bom senso, pois que se proíba com todas as letras. Para terminar, só um bocadinho de demagogia barata – os 800 mil euros que os nossos vereadores (todos, porque a CDU e o PSD alinham na jogada) vão dar à SAD, perdão, ao clube, serviam para remodelar e ampliar uma das muitas escolas que por aí estão, sobrelotadas e com as crianças a aprender em contentores.