Vamos lá a esclarecer melhor as participações cruzadas da Câmara de Matosinhos e do Leixões. Foi em 2002 que se constituiu a SAD do Leixões. Foi portanto no consulado de Narciso Miranda que a autarquia se tornou accionista, com uma “quota” de 200 mil euros (20% de um capital de um milhão de euros). Em resultado disso, Guilherme Pinto, então “vice” na Câmara, tomou um lugar como administrador.Três anos depois, em Dezembro de 2005, já com Narciso afastado, foi o actual Executivo, liderado por Guilherme Pinto, a decidir reforçar com 600 mil euros a sua participação na SAD.Reforçar… é uma maneira de dizer, porque, ao que me explicam, o que aconteceu é que se usou um “esquema” em que as dívidas absorveram o capital, o que fez encolher o capital inicial de um milhão para 50 mil euros.Confusos? Também eu, mas foi nesse contexto que a Câmara de Matosinhos avançou com mais 600 mil euros dos impostos dos contribuintes para o futebol profissional. Os restantes accionistas avançaram com o restante até o capital perfazer três milhões de euros.Avançaram… é uma maneira de dizer, porque, ao que me explicam, verdadeiramente em “cash” a SAD do Leixões só viu entrar o dinheiro dos contribuintes. O resto do capital, entre Leixões Clube, Manuel Carvalho e pequenos accionistas como José Teixeira, foi realizado com o perdão de dívidas. Quais dívidas? Provavelmente algumas jantaradas que ficaram por pagar nalguma marisqueira…Como se este cenário não fosse já suficiente, levamos agora, como já se disse abaixo, com a notícia de que a Câmara se prepara para aprovar mais um subsídio de 815 mil euros para pagar as obras do Estádio do Mar (503 mil em “cash”, mais 161 mil de perdão de uma dívida, mais 150 mil que já tinham sido entregues, mas não gastos, para as torres de iluminação).Posso ainda acrescentar que em 2006 e 2007 a autarquia entregou ao clube, ou à SAD, vá lá saber-se, 250 mil euros por ano, a título de ajuda à formação. E pelo menos temos o Bruno China a jogar a titular, sendo que o rapaz tem força e raça que justificam cada cêntimo de subsídio.Mas para o caso de alguém achar pouco, explicam-me ainda que o “outdoor” que anuncia o Mar à Mesa (o que quer que isto seja) no Estádio do Mar, custa à Câmara a módica quantia de 200 mil euros por ano. E ainda acresce mais 50 mil para anunciar a mesma coisa no autocarro do clube. Como este “patrocínio” encapotado será válido por cinco anos, ao todo, o “Mar à Mesa” vai render ao Leixões a módica quantia de um milhão de euros. Já para os contribuintes, não consigo perceber onde está o rendimento.Para terminar, deixem-me só citar Fernando Ruivo, coordenador do Observatório dos Poderes Locais, a propósito destes interesses cruzados entre autarquias e clubes de futebol profissional, que aliás a legislação permite: “Um golpe de rins muito bem feito”.Estou a pisar solo sagrado, como ironiza o Eugénio? Quero cá bem saber. Sou adepto e sócio do Leixões, mas acho que os cidadãos não têm de ajudar a pagar os meus prazeres tribais. E se, porque entretanto imperasse a sanidade, saindo a Câmara da SAD, isso implicasse uma descida de divisão, eu lá continuaria a ir ao Mar. Não sei se será assim com toda a gente.