sexta-feira, 30 de maio de 2008

Eu voto não

A recente conferência de Imprensa de José Manuel Teixeira não é para levar demasiado a sério. Ninguém no seu juízo perfeito olha para o senhor e o imagina presidente de um clube que quer ser levado a sério.Não podemos negar os resultados desportivos que conseguiu, mas também não podemos esquecer que isso se ficou a dever a injecções de capital de terceiros. O que aliás, e apesar da eventual generosidade de quem o fez, é um modelo de gestão completamente errado. Qualquer clube, Leixões incluído, tem de sobreviver apenas com as receitas que é capaz de gerar. Se não forem suficientes para garantir a permanência na Liga, pois que seja na Honra.Mas se os planos do "karateca" não são para levar demasiado a sério, já o que deu origem ao seu "movimento" tem de ser motivo de reflexão séria. Mais do que a municipalização do Estádio do Mar [que só avançaria se a Câmara perdesse de vez a noção do serviço público e do ridículo], o que é preciso discutir é a proposta de Carlos Oliveira de reduzir a participação do clube na SAD para 15%.A garantia de que, sendo acções de tipo A, é possível impedir a venda do clube ou a sua dissolução, não é garantia de coisa nenhuma. Transformando-se a SAD numa verdadeira empresa, e assumindo que na nossa autarquia se impõe o bom senso e que as acções que detém serão vendidadas, o clube passa a ser apenas mais um accionista, e pequeno, com nulo poder de decisão. Não vejo vantagens em assegurar que se ficará com os ossos depois de outros comerem a carne.Por outro lado, Carlos Oliveira, um gestor competente, também devia saber que a transformação ou a dispersão de capital das SAD não deu qualquer resultado em nenhum dos clubes, grandes ou pequenos, da nossa praça portuguesa.Sabemos todos que, mesmo os chamados clubes grandes, que poderiam ter algum atractivo para miraculosos investidores, vivem esmagados por passivos gigantescos. E sempre com as acções em perda. Expliquem-me lá que interesse tem um investidor em comprar uma acção por cinco euros, sabendo que uma semana depois vale dois euros e dois anos depois vale 50 cêntimos.Admito que os haja, não porque estejam interessados no sucesso desportivo dos clubes, mas porque podem ser excelentes plataformas para "lavar" umas massas ou para ganhar uns milhares ou milhões em comissões com a compra e venda de passes de jogadores.Note-se que não acredito que seja esta a intenção de Carlos Oliveira. Admito que tenha em vista um projecto sério e estruturado. Mas se agora sabemos que lá está um gestor competente, no futuro, com as regras que nos propõe, será mais fácil que lá vá parar um "Sérgio Silva" qualquer.Eu voto não à proposta. Sou adepto da paixão clubística em estado puro. E acho preferível ter os pés assentes na terra estando em divisões inferiores, do que estar na Liga mas simultaneamente mais próximo do abismo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Estádio municipal

O Eugénio é um provocador. Propor que o Leixões passe a jogar no estádio do Leça... E ainda por cima municipalizar o estádio? Deve achar que paga poucos impostos e quer pagar mais um. Como agora inventaram aquela da taxa de disponibilidade de água, para substituir a do aluguer do contador (a chamada chico-espertice), podemos sempre sugerir à Câmara que crie também a taxa de disponibilidade do estádio...1º O Leixões não tem que mudar de estádio. Muito menos ir jogar para Leça ou seja para onde for. O clube é de Matosinhos, portanto é em Matosinhos que tem que jogar. O que tem que fazer é, sem entrar em delírios ridículos, dotar o Estádio do Mar, aos poucos, de um pouco mais de conforto. Por exemplo, construindo novas bancadas, uma de cada vez, aproveitando para aproximar as bancadas do terreno de jogo.2º O Carlos Oliveira sabe do que fala? Que raio de exemplos são aqueles? Braga? Muito bonito, mas com a Câmara endividada nos próximos anos. Leiria? Aveiro? Exemplos máximos de roubalheira aos contribuintes. Milão? Não sabia que, tal como a Lombardia, estávamos entre os mais ricos da Europa. Mais, então se o futebol é um negócio, como Carlos Oliveira defende [não é ele que quer reduzir a presença do clube na SAD para 15%? E devo dizer que só isto dava um post...], quer sobreviver à custa dos contribuintes? Assim até eu conseguia ser um gestor competente. O que é difícil é gerir com poucos meios e, mais ainda, transformar uma gestão amadora numa gestão profissional.3º Por que razão continua a Câmara de Matosinhos a ser accionista da SAD? Pois se o actual presidente da Câmara já disse, mais do que uma vez, que a autarquia não tem vocação para gerir clubes de futebol e que a saída do capital era inevitável. Está à espera de quê? Do dia de São Nunca à Tarde? Ou será que além de se manter na SAD ainda está a pensar tornar-se "proprietário" de um estádio de futebol? Qualquer dia até se pode pedir à FIFA que agencie a Câmara como empresária de jogadores...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

"Já tomei a dianteira"

“Já tomei a dianteira”. Guilherme Pinto deu uma entrevista à Rádio Nova e ao Público e boa parte da conversa decorreu em volta da “guerra” de sondagens. Como é evidente, a dele [Domp] é boa, as outras [Eurosondagem] nem por isso. Embalado, o actual presidente até acha que, para além de estar na dianteira, a distância para Narciso Miranda vai aumentar: “com o ritmo de execução de obras até ao final do mandato admito que a balança se possa desiquilibrar ainda mais”.
Voltando às sondagens, o autarca dá uma no cravo e outra na ferradura. Por um lado explica que decidiu divulgar a sua sondagem porque o resultado é “bastante credível”, para mais à frente a descredibilizar: “o PSD está claramente subavaliado. Ninguém acredita que o PSD tenha um resultado tão baixo…” Vamos lá então a tentar perceber… qual é a parte credível da sondagem, é só a da percentagem de votos no PS?
Trapalhada com a credibilidade da sondagem à parte, Guilherme volta a ser duro com Narciso. Exemplo? Quando lhe perguntam qual o momento em que a zanga se consumou: “Há apenas a circunstância de Narciso entender que mais ninguém, senão ele, tem o direito de estar à frente da Câmara de Matosinhos”.
Percebe-se a posição do actual presidente quando critica Narciso, uma vez que o combate tem sido renhido e duro. Mas já se fica um pouco confuso quando ensaia uma pose de certa hipocrisia e faz de conta que a reconciliação é possível. Vejam a resposta: “É, completamente. Nada me daria mais prazer do que ver o meu antecessor reconhecer que a sucessão esteve à altura daquilo que foram os seus 30 anos à frente da autarquia. Pela minha parte acho que, em alguns aspectos, até já o superei.”
Eu pelo menos, que aprecio uma luta franca, aberta e directa, não gosto deste tipo de jogos florais.

Será que chega?

“Mar. Movimento. Cultura.” O lema corresponde à imagem que actualmente pretende projectar-se de Matosinhos. Mas como todos os lemas, peca por defeito e por excesso. Por defeito, porque o concelho é muito mais do que a soma de bons restaurantes, praias de bandeira azul, marginais requalificadas ou actividade cultural intensa. Por excesso, porque mascara a crise de uma actividade tradicional como a pesca, os recorrentes problemas ambientais da orla marítima ou as críticas a um certo elitismo na programação cultural.
Valha a verdade, no entanto, que é apenas um lema, marketing político que cada um aceitará ou rejeitará. Na verdade, mais do que um lema, do que Matosinhos porventura precisa é de debate público sobre o seu futuro e sobre as suas debilidades. Um debate a que o Poder Local, em Matosinhos, como nos outros concelho do país, habitualmente foge. Com este suplemento, o JN dá também o seu contributo para a formação de uma opinião mais esclarecida sobre alguns dos temas mais importantes para o futuro de um concelho que, para o bem e para o mal, sofreu uma profunda transformação nas últimas décadas.
Ao longo destas páginas reunimos informação e opiniões sobre questões como, por exemplo, o futuro da Exponor. Uma parque de exposições que já viveu tempos áureos mas que se encontra, hoje, numa encruzilhada. O projecto de transferência da vertente expositiva para o Europarque de Santa Maria da Feira falhou e, com isso, a oportunidade de requalificar e revitalizar uma zona nobre de Leça da Palmeira. O centro tecnológico que se prometeu, com pompa e circunstância, parece irremediavelmente fracassado. E da parte da Associação Empresarial de Portugal (AEP) não se encontra mais do que um silêncio confrangedor.
O mesmo silêncio em que se esbarra quando tenta questionar-se os responsáveis da Petrogal sobre o futuro da refinaria de Leça da Palmeira. Disso se queixam os jornalistas, como os autarcas das juntas de freguesia mais próximas de uma unidade industrial agressiva para os que a rodeiam. Uma infra-estrutura que quase todos continuam a classificar como essencial para a economia de Matosinhos, mas que outros consideram um anacronismo. Seja o que for, uma empresa que tem demonstrado pouco ou nenhum respeito pelo meio-ambiente e, portanto, pela qualidade de vida da população que vive em seu redor.
Uma população “que vive”, e não apenas “que dorme”, como defende o arquitecto Alcino Soutinho, que entrevistamos nestas páginas. Matosinhos já não é – e provavelmente nunca foi – uma cidade-dormitório do Porto. Embora encerre dentro de si uma série de dormitórios. Porque não basta ter uma área residencial desenhada por arquitectos de prestígio para se ter uma cidade equilibrada.
Paradigma? Matosinhos-Sul, a grande urbanização que se ergue sobre as ruínas das conserveiras. Um conjunto de quarteirões em que a habitação de qualidade cresce, mas em que são escassos os equipamentos públicos. Não há creches, não há escolas, não há centro de saúde, não há jardins. Tem marginal, restaurantes, actividade cultural. Ou seja, tem “Mar. Movimento. Cultura.” Será que chega?
[Editorial originalmente publicado no suplemento
sobre Matosinhos que se publica no JN de hoje]

domingo, 11 de maio de 2008

Domp vs Eurosondagem

Guilherme Pinto (PS) - 41,2% / 22,2%
Narciso Miranda (Ind.) - 35,6% / 42,2%
Silva Peneda/João Sá (PSD) - 11% / 20,2%
Honório Novo (CDU) - 4,2% / 7,6%
Gonçalo Torgal (BE) - 3,1% / 6,6%

E pronto, cá estão os resultados da última sondagem conhecida sobre as próximas eleições autárquicas em Matosinhos. Como de costume, publicadas depois de ter tido acesso ao documento. Foram feitas pela Domp e os resultados estão na primeira coluna. Os resultados da que foi feita pela Eurosondagem estão na coluna da direita, para que todos possam comparar. A da Domp foi feita no final de Abril, com 1046 entrevistas validadas. A da Eurosondagem foi feita em Fevereiro e teve 1025 entrevistas validadas. A margem de erro apresentada por ambas é de 3%.
A primeira conclusão que salta à vista é a de que a votação em Guilherme Pinto é a que tem a maior oscilação - 19 pontos percentuais - entre as duas sondagens. A segunda é a de que a sondagem da Domp subvaloriza claramente o valor dos partidos de oposição - a soma de PSD, CDU e BE é de apenas 18%. Um valor impensável, como é evidente, por muito que quem a fez imagine que Narciso Miranda vai sobretudo buscar eleitores precisamente a esses partidos. Por comparação, a da Eurosondagem atribuía ao conjunto dos partidos de oposição 34%. Mesmo assim escasso, mas pelo menos aparentemente mais realista.
Note-se que os resultados apresentados em cima são já as contas que as empresas fazem com métodos de ponderação [que me escuso a comentar, uma vez que não percebo nada do assunto]. É por isso interessante observar também os resultados brutos, ou seja, a percentagem de inquiridos que respondeu de facto votar em cada uma destas personagens. Mais uma vez, primeiro os da Domp, depois os da Eurosondagem:

Guilherme Pinto (PS) - 27,7% / 19,7%
Narciso Miranda (Ind) - 25,2% / 37,5%
S. Peneda/João Sá (PSD) - 6,1% / 18%
Honório Novo (CDU) - 2,6% / 6,7%
Gonçalo Torgal (BE) - 1,9% / 5,9%

Aqui, e para além do facto do PSD, com Silva Peneda (Domp), passar a ser um partido residual, é interessante fazer as contas à diferença entre os resultados brutos e os resultados ponderados dos dois principais "candidatos". Guilherme Pinto recebe mais 13,5 pontos percentuais com a Domp e mais 2,5 com a Eurosondagem. Narciso Miranda recebe mais 10,4 pontos com a Domp e mais 4,7 com a Eurosondagem. O que revela, presumo, diferenças assinaláveis na forma como se faz a distribuição de indecisos, com a Domp a "arriscar" mais, embora em ambos os casos se note alguma proporcionalidade nessas contas.
Ambas as sondagens têm o ponto fraco de não poderem testar o verdadeiro candidato do PSD a Matosinhos. João Sá (Eurosondagem) não voltará a apresentar-se, enquanto Silva Peneda (Domp), para além de ser praticamente desconhecido, é um candidato improvável. Os nomes de que se têm falado [e é pura especulação] são os de Paulo Morais (ex-vereador da Câmara do Porto), Agostinho Branquinho (ex-presidente da Distrital do PSD/Porto), Marco António Costa (vice na Câmara de Gaia e actual presidente da Distrital do PSD/Porto) e Rui Moreira (presidente da Associação Comercial do Porto).
Só quando se souber qual será o candidato desta área e se se apresentará em coligação com o CDS, se poderá aferir verdadeiramente o que poderá vir a acontecer. A mim o que me parece é que haverá dois candidatos na casa dos 30%, um na casa dos 20%, e dois um pouco abaixo dos 10% (CDU e BE). O resto é pura ilusão.