O que vale hoje Matosinhos? Como medir a importância de uma cidade, um concelho? Haverá seguramente muitas formas. O que é habitual é recorrer à estatística, à pretensa exactidão dos números. Nos últimos dias, têm aparecido alguns comentários no blogue, atribuindo a Matosinhos o 11º lugar no ranking de municípios. Presumo que esta posição tenha a ver com o número de habitantes. Será por aí que se afere o valor de uma cidade, um concelho? É curto.A Universidade da Beira Interior publicitou há tempos um estudo em que estabelece um Indicador de Qualidade de Vida (IQV). Matosinhos aparece no 24º lugar entre 278 municípios de Portugal Continental. Atrás de concelhos como Lisboa (1º), Albufeira (2º), S. João da Madeira (3º), Porto (4º), Vila Franca de Xira (9º), Aveiro (10º) Portimão (12º), Marinha Grande (16º) ou Maia (21º), só para dar alguns exemplos próximos ou surpreendentes.Não vou estar aqui a publicar a lista exaustiva de dados de que os autores do estudo se socorreram para elaborar este IQV. Apenas meia dúzia de exemplos de uma lista interminável: o número de bibliotecas e centros de saúde, médicos, infantários, percentagens de população servidas por água e rede de esgotos, taxa de analfabetismo, percentagens de crimes contra o património e contra pessoas, número de licenças de habitação concedidas, taxa de emprego, levantamentos no Multibanco, etc, etc…Sem supresa, concluíram os investigadores do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social [José R. Pires Manso e Nuno Miguel Simões] que os municípios da Grande Lisboa e do Algarve ocupam 14 dos primeiros 20 lugares. Sem surpresas, mas preocupante para Matosinhos e para todos os nossos vizinhos da Área Metropolitana do Porto (AMP). No fundo da escala estão municípios do Norte e do Centro (43 dos 50 últimos lugares!).Interessante também é alinhar o “ranking” entre os seis municípios que compõe o núcleo duro da AMP. Ou seja, o chamado Grande Porto, parcelas de uma mesma metrópole. O Porto é o mais bem posicionado no Indicador de Qualidade de Vida, com uma pontuação de 161,0 (4º lugar da tabela nacional). Seguem-se Maia com 127,9 (21º), Matosinhos com 125,9 (24º), Vila Nova de Gaia com 104,9 (50º), Valongo com 104,3 (54º) e Gondomar com 92,2 (91º).Para além do IQV geral, os autores apresentam também os resultados das três grandes parcelas em que dividiram o seu trabalho. Assim, e mantendo o ranking dos seis concelhos do Grande Porto, no “Factor Educação e Mercado de Emprego”: Maia (205,9 pontos), Porto (203,4), Matosinhos (198,3), V. N. Gaia (173,2), Valongo (170,8) e Gondomar (160,9). O primeiro a nível nacional é Albufeira (257,5).No “Factor infra-estruturas”: Porto (138,4), Matosinhos (51,0), Maia (47,3), V. N. Gaia (37,2), Valongo (37,2) e Gondomar (18,2). O primeiro a nível nacional, já adivinharam, é Lisboa (178,7).No “Factor ambiente económico e habitacional”: Porto (80,6), Matosinhos (40,8), Maia (35,9), Valongo (23,7), V. N. Gaia (20,1) e Gondomar (15,3). O primeiro a nível nacional é outra vez Lisboa (129,0).Em resumo, que o Porto esteja sempre à frente de Matosinhos, quer no IQV, quer nos índices parcelares não surpreende. O mesmo não se pode dizer da Maia, que a julgar pela amostra já tem melhor qualidade de vida que Matosinhos. E está bem à frente, sobretudo, em questões fundamentais como a educação e o emprego. Quem diria?