segunda-feira, 27 de abril de 2009

Abril

1 - Democracia. Disse-se algumas vezes por estes dias que Portugal, em termos formais, vive em democracia. Isto para concluir que um dos grandes objectivos do 25 de Abril - um dos três "D" - foi cumprido. Acontece que ao elogiar a forma o que acaba por ressaltar é a dúvida sobre o conteúdo. É verdade que temos um Parlamento e que somos nós que escolhemos quem nos representa. Mas será que nos sentimos representados? A resposta, para muitos, porventura para a maioria, será negativa.
A Assembleia da República, que deveria ser o porta-estandarte da nossa democracia, é hoje um órgão desacreditado. Foi, ao longo dos anos, completamente governamentalizada e partidarizada, com o que isso tem de pior. Os deputados já não representam os eleitores. Dependem dos humores de membros de governos ou de directórios partidários que decidem em circuito fechado. Agem em função das agendas e das conveniências de outros. Formalmente, os deputados continuam a ter o poder de decidir, na verdade não demonstram autonomia para decidir nada.
Não surpreende, portanto, que vão surgindo propostas para mudanças no regime. Uma das possibilidades mais discutidas nos últimos anos tem sido a da criação de círculos uninominais. Com o argumento de que o vínculo do deputado com os eleitores seria mais forte do que o compromisso partidário. Para outros, bastaria a abrir a possibilidade de candidaturas de movimentos independentes à Assembleia da República. Mais radical ainda é a proposta para introduzir um regime presidencial, à imagem do sistema francês. Qualquer delas merece pelo menos uma discussão séria. A ver se evitamos cair definitivamente no pântano.
2 - Desenvolvimento. Também neste caso se poderia dizer que, formalmente, o 25 de Abril cumpriu a sua missão. Sobretudo quando se compara o país miserável e atrasado de 1974 com o Portugal de hoje, um pouco mais rico e certamente mais evoluído. O problema é quando se coloca na balança o Portugal de hoje com alguns dos nossos parceiros europeus. Como a vizinha Espanha. Mesmo em tempos de crise, a fotografia não nos favorece.
Mais de três décadas passadas sobre o 25 de Abril, em Portugal continua a haver qualquer coisa como dois milhões de pobres. Com ou sem crise, estão permanentemente no fundo do poço. Um em cada cinco portugueses ainda não quebrou o ciclo de pobreza que se arrasta desde 1974. E sendo assim, só com alguma dose de credulidade se pode aceitar que fomos capazes de cumprir esse segundo "D" de Abril [o terceiro, o da descolonização, é um anacronismo que não cabe nesta crónica].
Pior do que o incumprimento é não se vislumbrar como e quem seja capaz de cumprir essa meta. Embora seja fácil perceber que se formos capazes de aprofundar a nossa democracia será certamente mais fácil encontrar um caminho sustentado de desenvolvimento. São objectivos que andam a par. E talvez os consigamos cumprir quando percebermos que a nossa participação não se esgota no voto.
(*) Crónica originalmente puublicada no JN desta segunda-feira

1 comentário:

JOSÉ MODESTO disse...

Caro Rafael, a Igualdade passa óbviamente por um bom exercicio de Democracia.
O desenvolvimento virá a seguir.
Em Portugal o antibíotico está fora de validade, concordará comigo que o modelo Empresarial Português é todo ele Importado.
As pequenas e médias empresas deveriam ser o motor de crescimento das nossas Exportações, não está a ser porque o modelo protagonizado pelos nossos empresários está esgotado.
Cito três ingredientes fundamentais para o nosso desenvolvimento:

- FORMAÇÃO
- INOVAÇÃO
- DESENVOLVIMENTO
Estes são os três ingredientes fundamentais rumo ao sucesso e desta forma incrementar as nossas exportações.
As Exportações são motores de desenvolvimento em qualquer país, desta forma combatemos o desemprego

Saudações Marítimas
José Modesto