quinta-feira, 19 de junho de 2008

A Galp e o Euro

Vai por aí uma grande celeuma a propósito da viagem à Suiça de uns tantos vereadores, a convite e expensas da Galp, para assistir a um jogo do "Euro". Vamos por partes.
- A Galp é uma empresa privada e é também uma das principais patrocinadoras da Selecção Nacional de Futebol. Como já alguém por aí escreveu, tem bilhetes, viagens e estadias para distribuir. É natural que alguns desses convites sejam entregues a quem dirige a Câmara Municipal de Matosinhos, em cujo território está sediada uma das suas mais importantes infra-estruturas, a refinaria de Leça da Palmeira. Claro que não se trata de um convite desinteressado, mas parece-me precipitado encará-lo apenas como uma tentativa de "comprar" silêncios.
- A refinaria de Leça da Palmeira constitui um foco de poluição permanente, revelando a empresa, e portanto quem a gere, uma considerável falta de respeito pelos cidadãos de Matosinhos. Tem havido vários acidentes que, pela sua dimensão, se tornaram públicos, mas o desrespeito pelo meio ambiente já faz parte da cultura daquela casa e tenho a certeza que os incidentes se repetem uns atrás dos outros. Simplesmente nem damos por deles.
- Este tipo de comportamento deveria exigir, pela parte de quem gere a Câmara de Matosinhos, uma posição com mão de ferro e não com mão de veludo. Não faz sentido pedir que ela seja encerrada, como já aconteceu no passado, como não faz sentido fazer de conta que não se passa nada, ou desvalorizar os acidentes que se vão sucedendo, vestindo (nem sempre em sentido figurado) o fato-macaco da Galp.
- A aceitação pelos autarcas de um convite da Galp é, julgo eu, perfeitamente legal. O que se pode e deve discutir é se é politicamente aceitável. Sobretudo no caso de Matosinhos e com o historial de conflitos que existe. Todos os pontos de vista são defensáveis. Mas para isso é preciso que um processo desta natureza seja politicamente transparente. Se a Galp envia convites aos responsáveis pela gestão autárquica e se estes consideram a hipótese de aceitar, essa aceitação deve ser tornada pública, por exemplo, em reunião pública da Câmara. O que não fica nada bem é aceitar o convite na esperança de que ninguém repare.
- Finalmente, convinha que os comentários que chegam a este espaço "libertário", neste como noutros assuntos, tivessem um mínimo de elevação. Usar o calão ou a insinuação caluniosa não revela outra coisa que não seja imbecilidade dos autores. Contra ou favor, podem usar os argumentos que quiserem. Insultos é que não.