segunda-feira, 1 de junho de 2009

Campanha eleitoral

1. A governabilidade e a estabilidade política do país não dependem de um governo de maioria absoluta, diz Manuela Ferreira Leite. Mais, não tenciona pedir a maioria absoluta na campanha para as eleições legislativas, porque considera que isso é fazer chantagem sobre o eleitorado. Não, Manuela Ferreira Leite não passou a ser, de repente, líder do PP, do PCP ou do BE, partidos que, pelo menos nos tempos que vivemos, não podem aspirar a liderar um governo. Manuela Ferreira Leite continua a ser líder de um partido, o PSD, que sempre defendeu a maioria absoluta como garantia da governabilidade e da estabilidade política.
O que leva então a líder do PSD a dar o dito por não dito? Simples, a certeza de que não poderá vencer as eleições legislativas e de que o seu partido terá de esperar muitos anos para voltar a beneficiar do capital de confiança que chegou a ter no passado. Quanto ao anátema da chantagem, é apenas retórica. Estivesse Manuela Ferreira Leite [e o PSD] na posição de José Sócrates [e do PS] e diria exactamente o contrário, com a mesma convicção.
2. É verdade que a capacidade de mobilização foi caindo, mas continua a ser impressionante que, à terceira manifestação, ainda sejam tantos os professores na rua. Interessa pouco se foram 60 mil, como diz a PSP, ou se foram 80 mil, como dizem os sindicatos. Foram muitos, mais do que na verdade se esperava que fossem. Nos tempos em que vivemos, de apatia generalizada, em que o sinónimo de protesto passou a ser o preguiçoso acto de assinar uma petição qualquer na Internet, a força e a mobilização dos professores tem de ser vista com respeito e consideração. Concorde--se ou não com algumas das razões do protesto.
Mas uma coisa é a indignação e o protesto a que têm direito os professores. Outra coisa é um sindicato entrar em campanha eleitoral. A Fenprof, que se saiba, não vai a votos no próximo domingo, tão-pouco nas próximas legislativas. Resulta, por isso, bizarro ouvir Mário Nogueira dizer, perante a imensa plateia, que "não podemos admitir que volte a funcionar uma maioria absoluta". Ficámos todos a saber que não foi o líder do sindicato dos professores que discursou, sábado à tarde, em Lisboa, foi o militante do PCP que aspira a ser líder de um sindicato de voto.
3. Falta uma semana para as eleições europeias, por todos [candidatos e eleitores] considerada uma primeira volta das legislativas. A diferença daquela relativamente a esta é que terá um nível de abstenção elevado, o que dificulta previsões e poderá baralhar o resultado.
O que nos dizem as sondagens é que a diferença entre PS e PSD se mantém estável, em redor dos três pontos, com socialistas na frente. Começa a ser provável que se confirme nas urnas porque, a um exuberante Paulo Rangel, que ameaçava com uma vitória, o PS contrapôs o eficaz José Sócrates, quase fazendo esquecer que o cabeça-de-lista é o trapalhão Vital Moreira. No campeonato dos mais pequenos, reaparece a capacidade de mobilização da CDU, agora que a festa na rua tem mais impacto. Fica mais para trás o Bloco, porque Louçã é mais eficaz no Parlamento do que em campanha. E no PP luta-se pela sobrevivência, de tal maneira que Nuno Melo foi atirado borda fora para dar lugar ao omnipresente Paulo Portas.
(*) Originalmente publicado no JN desta segunda-feira

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem vindo, após o longo interregno.
Hoje o que me traz aqui é o seu "Ponto e Vírgula" no JN que está transcrito neste post.
Faço-o pelo comentário que faz à afirmação que, segundo diz, Mário Nogueira proferiu na última manifestação de professores, do seguinte teor: "Não podemos admitir que volte a funcionar uma maioria absoluta". E o seu comentário de que "Não foi o líder do sindicato dos professores que discursou, sábado à tarde, em Lisboa, foi o militante do PCP que aspira a ser líder de um sindicato de voto" é injusto e revela uma azia enorme para com a luta dos professores, já por diversas vezes demonstrada, e para com o PCP.
É injusto porque está a reduzir a aspiração do fim da maioria absoluta aos militantes do PCP, quando, como deve saber, todos os outros Partidos têm proferido afirmações nesse sentido. E antes de dizer o que disse devia admitir que é normal que os professores se queixem desta maioria absoluta que não a soube exercer democraticamente pois tudo impôs e nada dialogou. Esteve contra tudo e contra todos, talvez só não tenha estado contra os jornalistas, e fundamentalmente os proprietários dos órgãos de comunicação social, porque estes têm um poder que as outras classes profissionais não têm, a informação,a desinformação e a manipulação. Quanto à azia, ela é evidente pelo que escreve. Mas deixe-me dizer-lhe que está a ser profundamente injusto para uma classe que tem sido martirizada por este governo, mesmo na sua dignidade pessoal. Quanto ao PCP, nesta campanha eleitoral, feita de muito contacto com as pessoas, que o director do JN não vê, também se vê a diferença pelo que critica, pelo que propõe e pelo que não insulta. É a sua forma de estar que alguns teimam em não querer compreender mesmo que morem num Concelho onde isso é por demais evidente. Mas como disse o outro, é a vida. Desculpe o tamanho deste comentário mas não podia calar a minha revolta.

Rafael Barbosa disse...

Não vejo razão para grande revolta. O comentário não tem que ver com o protesto dos professores, tem que ver com o posicionamento do líder do sindicato. Que se esqueceu que o seu papel, nesse protesto, era de líder sindical e não de militante partidário. Cada professor tem o direito de achar que o PS não merece maioria absoluta. Provavelmente nem sequer merece estar no Governo. Mário Nogueira também tem direito a ter essa aspiração. Mas como líder de um sindicato tem de ter outra postura. Sendo que a citação é apenas de uma das frases e portanto peca por defeito. Como certamente terá lido (eu li em vários jornais), o discurso foi em boa parte dedicado ao tema das maiorias absolutas. Insisto, o líder de um sindicato fundamental como a Fenprof não pode agir como se fosse um líder de oposição. A não ser que queira o lugar de Jerónimo de Sousa...