O debate político em Matosinhos não existe. Porque não se podem confundir as guerrihas – muitas vezes rasteiras - que por aqui abundam com debate político. O que por aqui existe é, demasiadas vezes, o pântano, expressão que entrou para o léxico político com o nosso antigo primeiro-ministro António Guterres. A responsabilidade por esta miséria cívica é partilhada pelos pseudo-actores políticos que temos:- Guilherme Pinto e a sua equipa, que não se conseguiram libertar dos fantasmas do passado, nem promover a renovação do PS, partido completamente minado, sobretudo a nível local, pelos arrivistas que sonham e lutam pelas migalhas que o poder autárquico ainda vai proporcionando.- Narciso Miranda, que vai repetindo a sua vontade de se candidatar, mas usando como argumento principal a traição do PS, como se isso fosse importante para o cidadão que vive longe, alheado e por vezes enojado com os golpes palacianos da corte partidária.- Honório Novo e o colectivo da CDU, que só de vez em quando se lembra que não chega ter um eleito que aparece de vez em quando às reuniões do Executivo.- Clarisse Sousa e um PSD que simplesmente não existe nem é capaz de fazer uma única proposta política que mereça eco onde quer que seja. Com a recente excepção da aberração do cartaz dos pugilistas, que apenas demonstra o amadorismo, leviandade e até estupidez a que um conjunto de militantes (não confundir com partido) pode chegar.O cenário não é mau, é dantesco, embora façamos todos alegremente de conta que talvez não seja bem assim. Mas não tem que ser irremedíavel. Há gente com qualidade em todos os quadrantes e, mesmo entre os já citados, tenho a certeza, porque os vou seguindo há anos, é possível melhorar o nível político.Pode ser que o ano que falta até às eleições autárquicas ajude a elevar um pouco a qualidade do debate. Haverá pelo menos algum esforço para a elaboração de programas e é suposto que, para os fazer, haja pelo menos alguma discussão nas sedes partidárias ou fora delas. Não vale a pena ter certezas, mas podemos sempre ter alguma esperança.Como sempre, tudo dependerá de quem se candidata, das condições em que se candidata e da equipa que o apoiará na candidatura. E finalmente, do discurso que cada um adoptar para fazer passar a sua mensagem. Os antecedentes não são bons mas, lá está, é preciso ter esperança.Guilherme Pinto é quem tem a obrigação de marcar o ritmo. Porque é o presidente da Câmara, porque é o presidente da Concelhia do PS, e portanto porque é quem, na teoria, tem os melhores meios para por uma data de gente a pensar e a contribuir. Não lhe falta gente com capacidade técnica, resta saber se a vontade de colaborar será grande.Narciso Miranda é o que tem maior responsabilidade. Candidato independente contra o partido de sempre e contra os autarcas que escolheu, terá de explicar muito bem o que fará diferente e como. Não chega argumentar com a traição. Tem a vantagem, ao contrário de Guilherme, de não estar dependente do aparelho partidário e camarário (que ainda por cima se confudem de forma escandalosa) e de, portanto, poder chamar a si quem lhe aprouver. Resta saber se ainda terá essa capacidade de sedução.Honório Novo e a CDU não precisam de surpreender, só precisam de acordar. Durante vários anos foram a única voz de oposição e a única força a apresentar alternativas. Basta recuperar um pouco o ânimo. Porque pessoas inteligentes sabem reconhecer a combatividade, mesmo que não concordem com os argumentos. De outro modo, correm o risco de acabar fora do Executivo, tendo em conta um cenário em que haverá um independente com muita força emocional e portanto eleitoral.O PSD é um caso à parte. E o melhor retrato, na verdade, é feita pelos seus militantes mais capazes, quando, o que é raro, se lembram de abrir a boca. Estou a pensar concretamente numa entrevista, que agora recuperei, de Pedro da Vinha Costa. No mês passado, em entrevista ao Matosinhos Hoje, não deixou pedra sobre pedra, no que a Clarisse Sousa e à rapaziada que a rodeia diz respeito.“O PSD não diz nada, não tem propostas, não tem rostos”. Está à espera de “um milagre”. Mas o mais provável é que, com semelhante estratégia, deixe de ser a segunda força política do concelho. “A Concelhia do PSD de Matosinhos não existe. Tem uma perspectiva da política igual à de uma associação paroquial de solidariedade social”, atesta.Só não percebo do que está à espera para encabeçar uma alternativa. O PSD teria muito a ganhar, porque é um político com valor e capaz de participar num debate político sério e são, como atestam os anos em que foi deputado do PSD na Assembleia Municipal e em que era a única voz social-democrata que valia a pena ouvir.O nome de que se fala, agora, para encabeçar a luta autárquica, é, no entanto, o de Agostinho Branquinho, deputado na Assembleia da República e ex-presidente da Distrital do Porto. Não me parece que a candidatura chegue a ver a luz do dia. Até porque, ao que me contam, o dirigente do PSD só aceitará tal repto “se lhe apontarem uma pistola à cabeça”.O mais provável é que venha a aparecer um pára-quedista qualquer, com escassa notoriedade pública e nulo conhecimento da realidade que terá de enfrentar. Para tragédia do PSD e dos matosinhenses, que bem precisados estão de gente que acrescente alguma coisa a este pântano.