quinta-feira, 17 de julho de 2008

Golpe de Estado

É já no próximo dia 31, se não me engano, que reúne a Assembleia Geral do Leixões em que os sócios serão chamados a votar a “privatização” da SAD do clube. Ou seja, em que será aprovada uma proposta do actual presidente da SAD, Carlos Oliveira, no sentido do clube reduzir a sua quota (de 40% para 15%) na estrutura autónoma que gere o futebol.Não tenho ilusões de que será aprovada. Até porque, como sempre, nestas operações cria-se sempre a ilusão de que vão entrar uns largos milhões nos cofres e que, com isso, será possível reestruturar as finanças e garantir um futuro de abundância. A maioria dos associados – do Leixões ou de outro clube qualquer – não resiste a semelhantes apelos. Mesmo que não tenham qualquer correspondência com a dura realidade.O que se anuncia é que, passando o clube de 40% para 15%, serão os sócios a subscrever essa parcela de 25%. E que portanto tudo se manterá mais ao menos na mesma. Claro que isto não é verdade. O que vai acontecer é que os associados vão subscrever apenas uma pequena parte do capital e que o restante ficará nas mãos de quem tiver dinheiro para deitar ao lixo. Se é que aparece alguém. Por outro lado, convém lembrar que um accionista não é um sócio, e portanto, mais tarde ou mais cedo, os associados deixarão de ter qualquer poder para influenciar a vida do clube.O que se vai passar, finalmente, é um verdadeiro golpe de estado. Quem está no poder quer apenas garantir mais poder e menor capacidade de fiscalização. Se não fosse assim, uma matéria desta importância não seria votada a 31 de Julho, quando a maior parte das pessoas estão de férias. E teria sido precedida de uma ampla e longa campanha de informação aos associados, que simplesmente não existiu nem existe.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O pântano

O debate político em Matosinhos não existe. Porque não se podem confundir as guerrihas – muitas vezes rasteiras - que por aqui abundam com debate político. O que por aqui existe é, demasiadas vezes, o pântano, expressão que entrou para o léxico político com o nosso antigo primeiro-ministro António Guterres. A responsabilidade por esta miséria cívica é partilhada pelos pseudo-actores políticos que temos:- Guilherme Pinto e a sua equipa, que não se conseguiram libertar dos fantasmas do passado, nem promover a renovação do PS, partido completamente minado, sobretudo a nível local, pelos arrivistas que sonham e lutam pelas migalhas que o poder autárquico ainda vai proporcionando.- Narciso Miranda, que vai repetindo a sua vontade de se candidatar, mas usando como argumento principal a traição do PS, como se isso fosse importante para o cidadão que vive longe, alheado e por vezes enojado com os golpes palacianos da corte partidária.- Honório Novo e o colectivo da CDU, que só de vez em quando se lembra que não chega ter um eleito que aparece de vez em quando às reuniões do Executivo.- Clarisse Sousa e um PSD que simplesmente não existe nem é capaz de fazer uma única proposta política que mereça eco onde quer que seja. Com a recente excepção da aberração do cartaz dos pugilistas, que apenas demonstra o amadorismo, leviandade e até estupidez a que um conjunto de militantes (não confundir com partido) pode chegar.O cenário não é mau, é dantesco, embora façamos todos alegremente de conta que talvez não seja bem assim. Mas não tem que ser irremedíavel. Há gente com qualidade em todos os quadrantes e, mesmo entre os já citados, tenho a certeza, porque os vou seguindo há anos, é possível melhorar o nível político.Pode ser que o ano que falta até às eleições autárquicas ajude a elevar um pouco a qualidade do debate. Haverá pelo menos algum esforço para a elaboração de programas e é suposto que, para os fazer, haja pelo menos alguma discussão nas sedes partidárias ou fora delas. Não vale a pena ter certezas, mas podemos sempre ter alguma esperança.Como sempre, tudo dependerá de quem se candidata, das condições em que se candidata e da equipa que o apoiará na candidatura. E finalmente, do discurso que cada um adoptar para fazer passar a sua mensagem. Os antecedentes não são bons mas, lá está, é preciso ter esperança.Guilherme Pinto é quem tem a obrigação de marcar o ritmo. Porque é o presidente da Câmara, porque é o presidente da Concelhia do PS, e portanto porque é quem, na teoria, tem os melhores meios para por uma data de gente a pensar e a contribuir. Não lhe falta gente com capacidade técnica, resta saber se a vontade de colaborar será grande.Narciso Miranda é o que tem maior responsabilidade. Candidato independente contra o partido de sempre e contra os autarcas que escolheu, terá de explicar muito bem o que fará diferente e como. Não chega argumentar com a traição. Tem a vantagem, ao contrário de Guilherme, de não estar dependente do aparelho partidário e camarário (que ainda por cima se confudem de forma escandalosa) e de, portanto, poder chamar a si quem lhe aprouver. Resta saber se ainda terá essa capacidade de sedução.Honório Novo e a CDU não precisam de surpreender, só precisam de acordar. Durante vários anos foram a única voz de oposição e a única força a apresentar alternativas. Basta recuperar um pouco o ânimo. Porque pessoas inteligentes sabem reconhecer a combatividade, mesmo que não concordem com os argumentos. De outro modo, correm o risco de acabar fora do Executivo, tendo em conta um cenário em que haverá um independente com muita força emocional e portanto eleitoral.O PSD é um caso à parte. E o melhor retrato, na verdade, é feita pelos seus militantes mais capazes, quando, o que é raro, se lembram de abrir a boca. Estou a pensar concretamente numa entrevista, que agora recuperei, de Pedro da Vinha Costa. No mês passado, em entrevista ao Matosinhos Hoje, não deixou pedra sobre pedra, no que a Clarisse Sousa e à rapaziada que a rodeia diz respeito.“O PSD não diz nada, não tem propostas, não tem rostos”. Está à espera de “um milagre”. Mas o mais provável é que, com semelhante estratégia, deixe de ser a segunda força política do concelho. “A Concelhia do PSD de Matosinhos não existe. Tem uma perspectiva da política igual à de uma associação paroquial de solidariedade social”, atesta.Só não percebo do que está à espera para encabeçar uma alternativa. O PSD teria muito a ganhar, porque é um político com valor e capaz de participar num debate político sério e são, como atestam os anos em que foi deputado do PSD na Assembleia Municipal e em que era a única voz social-democrata que valia a pena ouvir.O nome de que se fala, agora, para encabeçar a luta autárquica, é, no entanto, o de Agostinho Branquinho, deputado na Assembleia da República e ex-presidente da Distrital do Porto. Não me parece que a candidatura chegue a ver a luz do dia. Até porque, ao que me contam, o dirigente do PSD só aceitará tal repto “se lhe apontarem uma pistola à cabeça”.O mais provável é que venha a aparecer um pára-quedista qualquer, com escassa notoriedade pública e nulo conhecimento da realidade que terá de enfrentar. Para tragédia do PSD e dos matosinhenses, que bem precisados estão de gente que acrescente alguma coisa a este pântano.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Impostos

20,2 milhões de euros. Foi quanto a Câmara de Matosinhos arrecadou, em 2007, com o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). Não era num caso particular que José Sócrates estava a pensar, quando anunciou a intenção de reduzir o impacto do IMI na bolsa do cidadão, mas até parece.É que o nosso “primeiro”, para justificar a necessidade de regular a “gula” das autarquias, lembrou que, num ano, as receitas do IMI subiram 15%. Nem de propósito, foi essa a evolução que também se registou em Matosinhos. Tinha sido de 17, 6 milhões em 2006, passou para 20,2 milhões em 2007 (+14,58%).Resumindo, o comunicado entretanto emitido pela autarquia, em que se revela “atenta à realidade” e garante ter abdicado de “parte da sua receita em favor dos munícipes”, sabe a lágrimas de crocodilo. Anunciar que se cobra umas centésimas a menos do que as taxas máximas que lhe são permitidas só serve para convencer os ingénuos.O primeiro-ministro e a câmara falam do IMI, mas ignoram o IMT (Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis). Fazem mal. Porque este ainda custa mais a pagar, porque em simultâneo com a aquisição da casa, quando todos os tostões fazem falta.Neste capítulo, a Câmara de Matosinhos também revela um apetite insaciável. Em 2006, arrecadou 13,2 milhões de euros; em 2007, foram 16,2 milhões, ou seja, mais 22%.No conjunto, os impostos directos [que também incluem o Imposto Municipal sobre Veículos – 2,5 milhões] somaram 50 milhões de euros. É só a parcela mais importante de receitas da autarquia. Para além do facto de serem os matosinhenses a pagar, este resultado permite uma segunda leitura: a nossa autarquia continua excessivamente dependente do lóbi do betão.